Há qualquer coisa que não bate certo naquela imagem. Captada no exato momento em que o embaixador russo na Turquia é assassinado por um polícia numa galeria de arte em Ancara, em dezembro passado, a fotografia tem tudo para ser uma encenação, uma ficção, e não o testemunho de uma notícia de última hora: a estilização do cenário, a branco, a indumentária do polícia assassino como saído do filme Cães Danados, de Tarantino, a sua pose – de punho esquerdo em riste e a mão direita a segurar uma arma –, a disposição do seu corpo a fazer ângulo com o do embaixador morto, no chão, a ausência de qualquer gota de sangue na sala ou nos corpos dos dois…
Tudo ali parece ter sido trabalhado a fita métrica, antes de se ouvir o click da máquina fotográfica. É como se aquele acontecimento não tivesse existido mesmo e se se tratasse apenas de mais uma imagem apanhada na voragem das partilhas em redes sociais sem qualquer preocupação em aferir da sua autenticidade. Mas não podia ser mais real. An Assassination in Turkey, assinada por Burhan Ozbilici, foi eleita (não sem polémica) a fotografia do ano, vencedora do 1º Prémio do World Press Photo de 2017. Como sempre, nesta exposição com o apoio da VISÃO, há muitas outras imagens vencedoras para ver nas categorias Notícias de Última Hora, Notícias e Temas Contemporâneos (com particular incidência em grandes temas da atualidade como a guerra na Síria ou as migrações de refugiados), Quotidiano, Natureza, Pessoas, Desporto e Projetos de Longa Duração (retratos da vida na Ucrânia, no Irão e no Nebrasca, EUA).
World Press Photo > Museu Nacional de Etnologia > Av. Ilha da Madeira, Lisboa > T. 21 304 1160 > até 21 mai > ter 14h-18h, qua a dom 10h-18h > €3