A culpa terá sido de um sintetizador que Neil Hannon recebeu como presente no último Natal. O brinquedo tornou-se, entretanto, uma obsessão para o músico norte-irlandês e o resultado foi este disco, não só inspirado na maquineta mas que acaba também por funcionar como uma reflexão sobre o modo como a tecnologia está, cada vez mais, a tomar o lugar das pessoas. Isso não significa que os The Divine Comedy (o projeto de Hannon há quase 30 anos) se tenham tornado uns novos Kraftwerk, muito pelo contrário.
À exceção do devaneio eletrónico da faixa The Synthesiser Service Centre Super Summer Sale, Office Politics tem tudo aquilo que se pode esperar de um disco dos The Divine Comedy: um conjunto de temas pop perfeitos (e, por isso, intemporais) e letras tão profundas como bem-humoradas. É o caso do single Queuejumper, divertida canção sobre um condutor que só vê “luzes vermelhas”, mas passa à frente de toda a gente por se sentir melhor e mais esperto do que os mortais à sua volta – tudo isto embrulhado num instrumental que dá vontade de saltar da cadeira e começar logo a dançar.
Groove é, aliás, coisa que não falta a este verdadeiro compêndio sobre as relações entre as pessoas (amorosas, profissionais, sociais) num mundo laboral cada vez mais tecnológico. Ao todo, são 16 faixas, com nomes apelativos como Absolutely Obsolete, Infernal Machines, You’ll Never Work in This Town Again ou When the Working Day is Done, aqui celebrado ao melhor estilo de Scott Walker, encerrando um dos mais ecléticos e completos álbuns da já extensa discografia dos The Divine Comedy, com a ironia e a loucura de sempre.