Há quase 30 anos, os norte-americanos Mercury Rev cedo se afirmaram no então muito mais restrito clube da denominada música alternativa, com uma ousadia experimental que teve o seu pináculo em Deserter’ Songs, aclamado álbum de 1998 que ainda faz muita gente suspirar… A partir daí, e apesar de toda a reconhecida competência, faltou sempre aquele golpe de génio que, em tempos, tornou a música da banda, liderada por Jonathan Donahue e por Grasshopper, em algo transcendental. Em suma, como acontece com tantos outros artistas, os Mercury Rev normalizaram-se. Não é bom nem mau – é normal e é por isso que este disco merece nota de destaque: com ele, rompem com o passado mais recente e partem à descoberta de novos territórios.
Fazem-no com um álbum de versões cantado por 12 vozes – todas de mulheres. Como o nome indica, The Delta Sweete Revisited é uma releitura de um disco: The Delta Sweete, lançado há 50 anos por Bobbie Gentry. Na altura, era uma estrela em ascensão (tinha mesmo acabado de ganhar três Grammy), mas a cantora do Mississípi quase terminou precocemente a carreira com o álbum em causa, uma espécie de ópera-country, feita de temas originais e de velhos clássicos, na qual retratava a (sua própria?) vida nesse imenso Sul dos Estados Unidos da América. À época quase ignorado, The Delta Sweete seria recuperado com reverência por uma nova geração de ouvintes, que o elevou à condição de objeto de culto. Agora, os Mercury Rev resgatam-no com a ajuda de artistas como Norah Jones, Hope Sandoval, Margo Price, Beth Orton ou Lucinda Williams.