No lugar onde havia uma casa de pasto antiga, junto da estação de Santa Apolónia, surgiu, vai para seis meses, uma taberna moderna, por iniciativa de Bertílio Gomes, que é um chefe de cozinha tão competente como discreto. Para quem ainda não conhece a Taberna Albricoque, duas referências breves: uma sobre o espaço, que tem esplanada, sala principal e sala privada nas quais se mantêm os armários, os mármores e o mobiliário originais; outra sobre a gastronomia, que é mediterrânica e algarvia, apostada na frescura das matérias-primas e no primado dos vegetais, com a proteína animal para dar sabor.
É mesmo assim a cozinha de Bertílio Gomes na Taberna Albricoque. Tome-se como exemplo “o jantar”, que acaba de ser introduzido nos almoços de domingo (não há lapso, pois na tradição algarvia a refeição do almoço diz-se jantar; a da noite, ceia): um prato de substância, à base de grão, feijão, chícharo ou outra leguminosa com hortaliça e carne (porco, rabo de boi, etc.), no fundo, um cozido em que a carne entra mais pelo gosto que dá do que pela proteína que contém. A componente vegetal, ou hortícola, também determina a renovação constante da ementa. Por exemplo, os lombos de cavala na grelha com arjamolho e a abrótea arrepiada frita com tomatada, dois pratos já emblemáticos, irão manter-se, mas de outra forma: a cavala sem arjamolho (molho com tomate, azeite, vinagre, água fresca, alho, sal, coentros e pão duro em cubos), a abrótea sem tomatada (tomate picado fininho, azeite, sal, cebola e ovos). O fim da época do tomate assim o determina, aguardando-se alternativas com redobrado interesse. Também se mantêm, oxalá por muito tempo, a raia de alhada (que é a simplicidade elevada à excelência: só lombos e lascas do peixe cozidas, batatas cozidas, azeite, vinagre, alho, sal e uns cubinhos de tomate a enfeitar); a galinha cerejada com figos e amêndoas, que diverge da tradição algarvia por fazer do caldo uma emulsão em vez de ser aproveitado para cozinhar arroz no forno; a fritada de porco com papas de milho, outro prato tão simples como gostoso; e o ovo Bio escalfado (acabando o tomate, há de ser acompanhado com outro produto da terra).
Com isto passámos em revista os três pratos de peixe, os dois de carne e o de ovo que compõem a ementa do jantar, a que acrescem petiscos igualmente apetecíveis, como o rissol de berbigão, o carapau em tártaro com pickles de algas e a muxama de atum com salada montanheira, por exemplo. Ao jantar, para duas pessoas, sugerem-se dois ou três petiscos, dois pratos de peixe e um de carne, sabendo que as doses são intencionalmente reduzidas na quantidade e no preço, para facilitar a partilha e a prova de vários sabores. O almoço é diferente, com pratos do dia: um de peixe, um de carne e uma salada, com mais quantidade, para saciar. Mas também se pode optar pela partilha de prato e petiscos ou só por petiscos. É sempre bom, tudo é bom. Excelente doçaria de matriz regional, a que acrescem gelados de categoria. Garrafeira pequena mas com uma oferta diferenciada em estilos e preços de vinhos. Serviço jovem e simpático.
Taberna Albricoque > R. Caminhos de Ferro, 98 A, Lisboa > T. 96 349 1581 > ter 18h-23h, qua-sáb 11h-23h, dom 11h-18h > preço médio €20 (almoço), €30 (jantar)