Visão | O restaurante Nómada é uma casa aonde apetece voltar

O restaurante Nómada é uma casa aonde apetece voltar

Tiago Miranda

Em Lisboa, nas Avenidas Novas, onde quem gosta de sushi só tinha o Go Juu, surgiu um restaurante pela mão de dissidentes do Sushic que aqui também quiseram abrir a carta à cozinha contemporânea

Além do Gunkan MR da fotografia, dos cones e do naco, provámos Ostras Compostas com kimuchi (picante japonês), rebentos de coentro e esferificação de maracujá (€3/unid.), e Ceviche de Peixe Branco, com tiger’s milk, chips e puré de batata-doce (€11)
Tiago Miranda

Há lá melhor elogio do que aquele que puxámos para título, mas para quê poupá-lo se foi exatamente isso que pensámos quando saímos do número 40A da Avenida Visconde de Valmor, em Lisboa, os sentidos reconfortados depois do desfile de pratos preparado pelos chefes Mário Ribeiro, Francisco Bessone e Bruno Oliveira? Tínhamos entrado no Nómada impelidos por um cartão de visita inesperado: no rés do chão com esplanada nas traseiras onde até há uns meses existia a cafetaria Melt, um grupo de dissidentes do Sushic abrira na semana anterior (a 3 de agosto) um restaurante de sushi e cozinha contemporânea.
Sim, dissidentes, mas não discordantes, acrescentemos já. Nenhum dos antigos elementos da equipa do grupo Sushic, que começou no hotel Mercure Lisboa Almada, sofre do complexo de Édipo. E basta uma olhadela à carta para encontrarmos semelhanças com a do restaurante que entrou na lista dos amantes de sushi de fusão por força do Tripadvisor.
Nada de estranho, assumirá Rui Oliveira, que entrou neste projeto porque já era fã do seu amigo Francisco. As cartas dos quatro restaurantes do grupo Sushic foram todas criadas por Mário que decidiu, ao fim de quase sete anos a trabalhar 16 horas por dia, ser patrão de si próprio. “A base é a mesma mas o resultado nunca será igual”, faz notar Rui, naturalmente a fazer as honras da casa por ser o único dos três sócios que não passa os dias na cozinha.

Para prová-lo chegam dois Cones Crocantes (€3,5/unidade), variantes do temaki que se tornou um dos ex-líbris do chefe, recheados de atum marinado e cebola confitada em vinho do Porto, e aqui cobertos com sésamo e ervilha de wasabi. E, pouco depois, um outro prato-campeão, o Gunkan MR, 8 euros por arroz envolvido em salmão e no topo vieira flambeada em vinho de Carcavelos em vez de Moscatel de Setúbal. No fim, pousa na mesa o Naco Nómada (€15), coberto de massa folhada e nesse dia recheado de bacon e queijo, a confirmar que o talento de Bruno estava mal aproveitado no grupo Sushic.
Se o pedido mais desejado na cozinha é “Surpreendam-me”, finalize-se a escrever que o brasileiro Giscard Müller, ex-chefe de sala do Sushic e sócio da WineService4You, desenhou uma carta de vinhos quase só composta por rótulos desconhecidos. E que o vinho verde Quinta de San Joanne, de 2013, acompanhou como gente grande o desfile que nos deixou desertos para voltar ao Nómada.