Não. O sarampo não veio para ficar, uma vez que será eliminado e erradicado. À eliminação corresponde o tempo sem casos novos de doença. Porém, este cenário só será possível quando todos os países do continente europeu conseguirem alcançar taxas de cobertura de vacinação elevadas, como aquela que se verifica em Portugal. E isto porquê? Porque no mundo de hoje não há fronteiras e, em poucas horas, a deslocação de qualquer indivíduo aparentemente saudável é possível de acontecer, de um continente para outro, ora esse indivíduo aparentemente saudável pode estar a incubar a infeção que adquiriu numa região onde o vírus esteja a circular. E portanto, chegando ao país de destino, neste caso, assumindo Portugal, o início das manifestações clínicas confirma que viajou durante o período de incubação. Pode transmitir o vírus do sarampo a quem não estiver completamente vacinado e imunizado. Isto é, quem não possuir anticorpos de defesa contra o sarampo, em quantidade suficiente para neutralizar o vírus.
A eliminação do sarampo implica antes de mais uma larga cobertura vacinal, acima de 95 por cento da população, para impedir a circulação do vírus. Mas esta cobertura terá de ser observada igualmente nos países com os quais Portugal mantém fluxos de população, pelos diferentes meios de transporte, de forma permanente.
A origem do atual surto está relacionada com bolsas de pessoas não vacinadas, sobretudo em França. Este país, assim como Itália, constitui um problema, porque “entrou na moda” as mães e os pais não vacinarem as crianças. Isto acontece porque elas próprias já não tiveram sarampo.
Em 1975 foi introduzida a vacina, por isso esta geração de pais não conhece o sarampo, nunca viu manifestações da doença, não sabe o risco que esta representa e acaba por não vacinar as suas crianças. Além do mais, como o vírus não circula, deixa de haver a possibilidade de reativação do sistema imunitário e é assim que surge o fenómeno de possível vulnerabilidade, mesmo entre as pessoas já vacinadas, mas há muitos anos.
Temos então em análise a questão que implica: primeiro, a continuação da vacinação de forma homogénea e sem desequilíbrios ou desigualdades, com taxas que têm de ser superiores a 95 por cento. Este é o primeiro ponto para se eliminar o sarampo.
O segundo ponto é combater as bolsas de grupos populacionais que recusam a vacinação, nomeadamente nos países com os quais Portugal mantém proximidade, em termos de mobilidade.
O terceiro ponto, e numa ação concertada, é certo que o sarampo poderá ser uma doença a erradicar a nível global, uma vez que a vacina é muito segura, eficaz e acessível.
Por outro lado, há que reconhecer que o vírus do sarampo tem como reservário apenas os doentes. E se acabarmos com a doença, naturalmente acabará o reservatório do vírus. Ou seja, em princípio o sarampo é uma doença erradicável. Para tal, há que programar esforços entre os países.
É este o trabalho da Organização Mundial de Saúde. São os serviços de saúde pública dos diversos países que têm de facilitar e promover a vacinação. E é dever dos pais vacinar os seus filhos. Os que optam por não o fazer estão a pô-los em risco e não podem fazê-lo não são soberanos em relação à vida e à saúde deles. Os maus-tratos são punidos por lei, e não vacinar uma criança é uma forma de maltratá-la.
(Artigo publicado no nº 1 da VISÃO Saúde. Mais perguntas e respostas sobre os mais variados temas na edição que está nas bancas)