O ambiente das salas de reuniões das empresas pode influenciar a tomada de decisões. Esta é a conclusão de, pelo menos, oito investigações realizadas nos últimos anos, que sugerem que as salas (principalmente as pequenas) acumulam demasiado dióxido de carbono e calor, assim como outras substâncias, que vão ter um peso importante naquilo que se passa durante a reunião.
Estes estudos analisaram o que acontece em salas que acumulam demasiado dióxido de carbono, expelido na respiração, e perceberam que os efeitos não são apenas físicos – sabe-se que o risco de asma e de alguns tipos de cancro aumenta – como também psicológicos.
Outros poluentes do ar internos podem estar relacionados com o desenvolvimento de problemas respiratórios, apesar de, até agora, os valores de dióxido de carbono terem sido um pouco desvalorizados, principalmente em locais com níveis relativamente baixos deste gás. Mas os cientistas começaram, recentemente, a reexaminar esta tendência.
Colocando a hipótese de que a qualidade do ar no interior de uma sala pode ter, realmente, impacto nas funções cognitivas, é importante repensar a forma como se trabalha.
Investigadores biomédicos deram conta, em 2011, que inalar dióxido de carbono em níveis muito mais altos do que se espera no local de trabalho – níveis acima de 1200 ppm indicam uma baixa taxa de ventilação – pode dilatar os vasos sanguíneos cerebrais, reduzir a atividade neuronal e diminuir a qualidade da comunicação entre as diferentes regiões do cérebro.
Contudo, quando se trata de níveis menores de CO2, que se encontram em ambientes fechados como as salas de reuniões, os estudos relativos aos seus efeitos no cérebro são muito escassos.
Há cerca de uma década, uma equipa do Laboratório Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia, pediu a vários voluntários que entrassem em salas com diferentes níveis de dióxido de carbono, entre 600 ppm e 2500 ppm (uma quantidade alta, mas não incomum em espaços com muitas pessoas).
Os pesquisadores solicitaram, depois, aos voluntários que realizassem um teste de resolução de problemas que media a produtividade e a capacidade para a tomada de decisão e perceberam que, para níveis mais altos de dióxido de carbono, os resultados tinham sido mais baixos: quando as pessoas foram expostas a 2500 ppm, as pontuações dos testes foram, no geral, muito piores relativamente aos resultados encontrados em pessoas expostas a 1000 ppm.
Mais tarde, em 2016, cientistas da Universidade de Harvard fizeram um estudo semelhante, expondo os voluntários a diferentes níveis de dióxido de carbono e pedindo-lhes que realizassem o mesmo teste. Os resultados foram semelhantes, com a capacidade para resolver problemas a diminuir quando os níveis de dióxido de carbono aumentavam.
A verdade é que nem todos os estudos que analisaram esta relação encontraram efeitos claros, sendo que alguns não verificaram qualquer mudança quando os voluntários tinham de fazer a revisão de um texto, por exemplo, ou um outro teste mais simples. Ou seja, o stress que os voluntários sentiram no momento do teste mais complexo pode ter tido influência, fazendo com que fossem registadas pontuações mais baixas.
Apesar de haver pequenas falhas nesses estudos, a verdade é que os resultados sugerem que é importante rever os níveis de dióxido de carbono tanto em escritórios como nas escolas, já que podem afetar as capacidades cognitivas e prejudicar a produtividade.
Um estudo realizado em 2017 revelou que, aumentando a ventilação nas escolas, as crianças conseguem alcançar resultados melhores nos testes e realizar todas as tarefas mais rapidamente, evitando os momentos de distração.
O mesmo pode acontecer nas pequenas salas de reunião ou trabalho, embora não tenham sido realizadas investigações especificamente nestes locais.
Recorrendo a especialistas, o The New York Times explica que sem um sensor especializado é muito difícil conhecer com exatidão os níveis de dióxido de carbono presentes dentro de uma sala. Por isso, o melhor a fazer é deixar uma janela aberta ou a porta, sempre que possível.