Richard A. Friedman chama-lhe o grande mito da ansiedade adolescente. Provocador q.b., o psiquiatra, que assina regularmente no reconhecido diário norte-americano The New York Times, deixou um aviso aos pais, num dos seus artigos recentes. “Relaxe: a era digital não está a rebentar com o cérebro do seu filho.
“Segundo Friedman, não são os gadgets que os estão a tornar ansiosos e incapazes de se concentrarem. “As coisas não estão assim tão mal: apesar das notícias em contrário, não há, nos adolescentes, evidências científicas de uma epidemia de perturbações de ansiedade.
“O mais certo, insiste, é que todas estas histórias estão a contribuir para alimentar esse mito. Há ainda quem argumente que se as crianças são ansiosas é porque existe muita competição para conseguirem as melhores notas e um bom emprego.
Mas essa, afirma Friedman, é uma ansiedade saudável – e não deve ser tratada como uma desordem mental. “Os pais são tão protetores em relação aos filhos que não os deixam falhar, alimentando a ansiedade deles se algo correr mal.
Esquecem-se de que assim as crianças nunca aprendem a resolver as suas questões”, diz, sublinhando que o advento da nova tecnologia provoca sempre pânico – “quem não se lembra dos inúmeros avisos em relação ao abuso da televisão e dos danos que este causaria no cérebro? E não há registo disso”.
Margarida Gaspar de Matos, psicóloga clínica e professora da Universidade de Lisboa diz que também não lhe “parece que os adolescentes estejam mais ansiosos”. “Há é mais atenção em relação aos seus direitos e necessidades – e isso traz para a ribalta a sua saúde mental e o seu bem-estar.” A especialista recorda, aliás, que, até há bem poucos anos, a saúde mental era um tema-tabu nas escolas e nas famílias – o que só mudou no período da recessão, sobretudo entre 2010 e 2014.
Teresa Goldschmidt, pedopsiquiatra, presidente da Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência, explica, por seu lado, que nem o argumento de que os jovens andam mais medicados pode significar um aumento do problema.
“O facto de a medicação psicotrópica estar a ser mais usada não quer dizer que a situação a nível da saúde mental dos jovens esteja pior”, afirma. A médica diz que não há um aumento da prevalência, mas uma subida da pressão social para o sucesso individual, o que poderá levar a uma sobrevalorização do desempenho, colocando os adolescentes sob maior pressão.
Além de ser preciso rever o peso que se atribui aos resultados escolares, os pais devem perceber que as crianças têm de conviver: “É a multiplicidade das experiências relacionais que permite, por vezes, ultrapassar dificuldades transitórias.”
O que os pais devem fazer
Quatro conselhos da pedopsiquiatra Teresa Goldschmidt
► Incentivar os filhos a estarem com amigos
► Dar-lhes espaço para falar de inquietações
► Apoiá-los na forma de lidarem com os insucessos
► Não evitar as situações que desencadeiam ansiedade, mas sim apoiá-los na forma de as enfrentar