Os instrumentos utilizados em cirurgias do foro da neurocirurgia podem estar contaminados com proteínas ligadas à doença de Alzheimer. Esta é a conclusão de um novo estudo realizado por investigadores da University College London, que alerta para a importância de desinfetar todos os instrumentos utilizados nesse tipo de operações de forma mais atenta.
Este procedimento deve ser realizado como medida de precaução para reduzir o potencial risco de disseminação de proteínas anormais que se acumulam, geralmente, nos cérebros dos doentes de Alzheimer.
John Collinge, professor da University College London, explica que, embora a doença de Alzheimer não seja contagiosa, existe um pequeno risco de que proteínas nocivas que causam a doença possam espalhar-se durante cirurgias cerebrais e outros procedimentos médicos.
“Não sabemos se algum caso de Alzheimer está relacionado com procedimentos médicos ou cirúrgicos, mas, na minha opinião, devemos adotar uma abordagem preventiva”, defende o médico.
Em 2015, a equipa analisou um grupo de oito doentes do Reino Unido que morreram devido à doença de Doença de Creutzfeldt-Jakob, uma doença degenerativa que provoca uma rápida neurodegeneração incapacitante com movimentos involuntários. Estes doentes tinham sido tratados com hormonas do crescimento contaminadas, retiradas de cadáveres.
A hormona foi extraída de milhares de glândulas pituitárias, foi agrupada e injetada em cerca de 30 mil crianças, maior parte delas com atrofia no crescimento, entre 1958 e 1985. A maioria dos pacientes analisados também tinha um nível incomum da proteína beta-amilóide, relacionada com o Alzheimer, tendo uma condição denominada Angiopatia Amilóide Cerebral, em que as placas amilóides se acumulam nos vasos sangüíneos do cérebro, e não entre as células nervosas).
Agora, para testarem se a hormona contaminada podia ou não espalhar a doença, os cientistas injetaram-na no cérebro de ratos geneticamente modificados, capazes de produzir as proteínas beta-amilóides humanas. Os animais desenvolveram rapidamente vários aglomerados desta proteína, assim como Angiopatia Amilóide Cerebral. Os pesquisadores acreditam que estas “sementes” beta-amilóides que contaminaram a hormona desencadearam a formação de placas amilóides.
Os ratos não desenvonveram Alzheimer, mas o estudo sugere que estas “sementes” podem ser propagadas a partir de determinados procedimentos médicos e podem, efetivamente, provocar doenças como o Alzheimer e a Angiopatia Amilóide Cerebral.
“Para estas duas condições, existem circunstâncias em que a transmissão da doença pode ocorrer”, explica John Collinge. “Acho importante que façamos mais pesquisas sobre isso e desenvolvamos novas maneiras de remover essas sementes, de forma a que qualquer risco existente seja eliminado”, continua.
O autor acredita que são necessários muitos mais estudos que verifiquem uma possível ligação entre os procedimentos médicos e o Alzheimer e diz ser importante pensar em melhores meios de descontaminação dos instrumentos cirúrgicos que entram em contato com o cérebro humano, para eliminar qualquer risco.
Apesar disso, dizem os investigadores, os riscos para os humanos são muito reduzidos, não havendo qualquer razão que justifique o adiamento de uma cirurgia cerebral com base nestas evidências.
O estudo foi publicado na revista científica Nature.