O premiado investigador Mel Greavez, do Instituto britânico para Investigação do Cancro, anda a estudar a leucemia infantil há mais de 40 anos e já deitou por terra várias teorias relativas às causas da doença, como a radiação, cabos elétricos de alta tensão ou o uso de químicos.
Agora, uma revisão de vários estudos sobre o tema, publicada na Nature Reviews Cancer, permitiu ao professor concluir que a maioria dos casos têm origem em dois passos cruciais: o primeiro ocorre ainda no útero materno, quando uma mutação genética predispõe o bebé à leucemia. No entanto, sublinha o investigador, só 1% das crianças que nascem com essa alteração genética desenvolvem a doença – são as que passam pelo segundo passo: a exposição a uma ou mais infeções comuns, sobretudo se tiverem crescido em ambientes “limpos”, com pouca exposição a vírus e bactérias de irmãos ou outras intereções sociais.
“Sempre achei que faltava algo importante, uma falha no nosso conhecimento – porquê ou como crianças saudáveis desenvolvem leucemia e se este cancro é evitável”, explica Mel Greavez, que, com esta conclusão, acredita ser possível prevenir a doença, expondo as crianças com a tal mutação genética a micróbios benignos nos primeiros tempos de vida, para afinar o sistema imunitário.
“Pode ser feito da mesma forma que se está atualmente a considerar para as doenças autoimunes ou as alergias – talvez com intervenções simples e seguras para expor as crianças a micróbios comuns e inofensivos”, defende.
A leucemia linfoblástica aguda é o tipo de cancro infantil mais comum. Em Portugal, registam-se cerca de 70 a 80 novos casos por ano.