A ideia é comer apenas – e muita – carne e, assim, aumentar a produtividade no trabalho, bem como a clareza mental e a qualidade da pele. Também o sono vai ser melhor e a pressão sanguínea mais baixa. É nisso que acreditam os novos defensores da dieta carnívora, feita completamente à base animal, em que só se ingere carne, vísceras e ovos. E se acha que comem produtos de origem vegetal, desengane-se.
Shawn Baker tem 51 anos, é cirurgião em Orange County, Califórnia, e é um carnívoro puro. No último ano e meio, ingeriu quase 2kg de carne todos os dias – talvez seja por isso que já foi apelidado de Carnivore King (Rei dos Carnívoros). Ao The Guardian, o médico conta que, apesar de, inicialmente, comer a mesma coisa todos os dias ser “monótono”, com o passar do tempo as pessoas começam mesmo “a desejá-lo”.
Com mais de 30 mil seguidores no Instagram, o fisiculturista é um adepto acérrimo desta dieta carnívora, que leva mais longe o conceito da dieta cetogénica – que consiste na redução drástica dos hidratos de carbono e na ingestão de gordura como fonte de energia.
Antes de seguir este tipo de alimentação, o cirurgião comia saladas e vegetais, frutos secos como as nozes e laticínios, mas acredita que abandonar todos estes alimentos melhorou muito a sua performance desportiva. Além disso, conta, as dores nas articulações e a tendinite que tinha desapareceram, depois de começar esta dieta. “Nunca mais tive inchaços, cãibras ou problemas digestivos. A minha líbido voltou ao que era, como quando tinha 20 anos, e a pressão arterial normalizou”, diz.
“Só tenho de pensar: quanta fome tenho e quantos bifes eu quero comer?”, diz o cirurgião, que afirma que a manutenção deste estilo de alimentação é realizada de forma muito fácil, já que não exige a contagem de calorias nem o planeamento de refeições. Parece simples, não parece?
A ideia de uma dieta deste género, sem fruta nem vegetais, foi adotada por um grupo de empresários ligados ao mundo da criptomoeda, que se autodenominam “carnívoros bitcoin”, história que já tinha sido contada pelo site americano Motherboard. “Depois de alguém ser capaz de ver além das mentiras e mitos que os especialistas de uma certa área espalham, fica mais fácil conseguir ver isso também em outras áreas”, defende Michael Goldstein, defensor máximo das criptomoedas e, também, da dieta carnívora. O empresário americano gere um site dedicado a esta dieta, o Justmeat.com, e gasta, aproximadamente, 400 dólares por mês em carne: come mais de um quilo de carne todos os dias.
Segundo Michael, adotar esta dieta aumentou a sua produtividade no trabalho. “Gasto muito pouco do meu tempo a pensar em comida. Só preciso de comer uma ou duas vezes por dia, sem petiscos. Basicamente, é o melhor hack de produtividade”, afirma o empresário.
Também as mulheres estão a apostar nesta dieta. Lily Chien-Davis, especialista em redes sociais, começou a adotar uma dieta baixa em hidratos de carbono (cetogénica) depois de o marido ter sido diagnosticado com cancro. Em fevereiro deste ano, decidiu mudar para a dieta carnívora. Lily diz que, em 30 dias, se tornou mais forte e o seu humor melhorou. Na opinião da especialista em redes, o aumento da produtividade e a clareza mental são as razões mais fortes que levam as pessoas a adotar esta dieta, especialmente na região de Silicon Valley, na Califórnia. “Esta dieta deu-me energia extra e maior desempenho”, garante.
O que dizem os vegan desta dieta?
Não se estava à espera que os defensores do veganismo achassem esta dieta incrível, já se manifestaram contra este tipo de dieta e têm criticado todos os que publicamente a defendem. Na sua conta de Instagram, Shawn Baker, brinca, várias vezes, com os vegetarianos, e diz ainda que, as pessoas que comem uma dieta vegan apenas por saúde e não por motivos éticos, têm boas razões para começar a seguir a dieta carnívora. Na opinião do cirurgião, se algúem consegue ser tão extremista numa dieta vegan, o mesmo pode acontecer na dieta carnívora.
“Acho que a dieta carnívora é não só inadequada para a saúde humana, mas também para a saúde do planeta”, comenta, por outro lado, Christopher Gardner, professor de medicina na Universidade de Stanford, Califórnica. O médico defende, também, que este tipo de alimentação é “abusiva da força de trabalho humana, por causa da preparação da carne e abusiva dos direitos dos animais.”
Alguns investigadores dizem, também, que a falta de fibra alimentar associada à dieta carnívora pode causar problemas no nosso microbioma que levam, muitas vezes, a inflamações e outras complicações nos intestinos. Além disso, a ingestão de carne faz com que haja um aumento no sangue da substância N-óxido de trimetilamina que, segundo cientistas, pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares.
No seu blogue “Nutrição com Coração”, a nutricionista Ana Bravo diz que, na dieta cetogénica, muito próxima da carnívora, o objetivo é “basear a alimentação na ingestão de gorduras, proteína em quantidade adequada e muito poucos hidratos de carbono, não em passar fome”. Neste tipo de alimentação, segundo a nutricionista, ” o apetite está normalmente bem controlado (ou mesmo suprimido), por efeito direto das proteínas, dos corpos cetónicos e dos níveis hormonais que regulam a fome”. O importante é fazer sempre estas dietas com a orientação de um nutricionista, para garantir que não existe carência de nada no organismo.