Os investidores estão a reagir ao contra-ataque do governo chinês às tarifas anunciadas por Donald Trump. Pequim anunciou esta manhã que irá aumentar para 25% as taxas aduaneiras que se aplicam sobre as importações de bens dos Estados Unidos, abrangendo 50 mil milhões de dólares em mercadorias. Mais um sinal de que podemos estar os primeiros tiros de um conflito comercial aberto entre as duas maiores economias do mundo.
Entre carros e soja, este agravamento de tarifas deve afetar 106 mercadorias produzidas nos Estados Unidos, podendo também abranger a indústria aeronáutica norte-americana, bem como a química. Esta foi a resposta chinesa à ofensiva dos EUA, que tinha anunciado novas taxas também sobre bens chineses – com ênfase na área tecnológica – no mesmo valor de 50 mil milhões de dólares, acusando Pequim de roubo e coerção de grupos americanos para divulgarem a sua propriedade intelectual e aquisição de empresas com fundos estatais chineses.
No mercado secundário, o industrial Dow Jones era dos que apresentava perdas mais expressivas, chegando a perder mais de 600 pontos, e acompanhado de perto pelo S&P 500 e pelo Nasdaq. Todos os índices perdiam entre 2% e 2,5%, a sinalizar uma sessão que deverá ser marcada pelo sentimento negativo na maior economia do mundo.
“Os EUA têm a intenção perversa de estrangular a inovação tecnológica chinesa. A China não irá submeter-se ao “bully” americano. O nosso contra-ataque irá atingir os seus pontos fracos”, afirmou Wei Jianguo, ex-ministro do Comércio chinês e hoje líder de um think-tank ligado ao governo, citado pela Bloomberg. Os economistas temem que a cada iniciativa de protecionismo comercial corresponda uma resposta da potência económica penalizada e que, a pouco e pouco, os fluxos comerciais internacionais afundem e, com eles, o dinamismo da economia mundial. Os primeiros a sentir o impacto serão os consumidores que deverão ver o preço destes produtos subir.
Os mercados mundiais têm vivido, nas últimas semanas, um elevado nível de volatilidade, potenciado ora pelos receios em torno dos desempenhos das tecnológicas – e por casos como o da Cambridge Analytica, que acabou por fazer o Facebook perder milhões em bolsa -, ora pelas dúvidas sobre a indústria automóvel, com a Tesla a afundar e a contagiar algumas das cotadas, passando pela guerra comercial iniciada por Donald Trump, que difilmente estará longe do fim. “A incerteza comercial tem sido o maior penalizador dos mercados”, referia um estratega da Lombard Odier Asset Management à mesma agência esta manhã. “Nesta altura temos que ser cautelosos. O cenário micro ainda não se alterou profundamente. O crescimento mantém-se robusto, a menos que entremos numa guerra comercial maior”, acrescenta.
Os receios estão também a ditar o sentimento na Europa, onde as principais praças do Velho Continente registam perdas entre 1% e 1,5%, com destaque para o DAX alemão, que resvalava mais de 1,6%. Em Lisboa, a Ramada Investimentos (1,56%) e a Altri (0,56%) travam maiores quedas do principal índice nacional, que resvalava perto de 1%, enquanto nas praças a oriente o sentimento é misto.