A sonoplastia é, aqui, a personagem principal, aquele ser omnisciente e omnipresente que comanda a dança. Na Sala Mário Viegas do São Luiz, o público senta-se em círculo no novo espetáculo de Miguel Bonneville, integrado na série A Importância de Ser, desta vez dedicado ao filósofo francês Georges Bataille. Ao fundo, há um insuflável preto, um monstro, que vai inflando ao longo da performance. Três rapazes e duas raparigas movem-se, de forma mecânica ou alheada, como se não fossem donos do seu próprio corpo. Ele vai por si. Há uma necessidade de corte com a vontade e com a compreensão racional.
“Esta série tem sobretudo que ver com uma questão anti-iluminista, antiexcesso de razão. Acho que esses excessos de razão, de explicações, não nos trouxeram a um lugar melhor”, diz Miguel Bonneville. “O meu movimento foi sempre o de tentar perceber o que me move e só depois perceber porquê, não o contrário. Sinto que não posso desfrutar da obra se ela já está explicada à partida”, continua. “Bataille não estava à procura de ser um filósofo académico, não procurava organizar as ideias num sistema; estava, até, muito ligado ao misticismo.”
Em A Importância de Ser Georges Bataille, há uma aproximação à espiritualidade, à meditação, ligadas a uma ideia de sexualidade, enquanto forma primordial de expurgar as tensões do corpo. Uma não existe sem a outra, são faces da mesma moeda. “Houve muito esta procura de pensar nos corpos como um todo”, acrescenta o coreógrafo. “Isso acabou por acontecer sem o forçarmos; nos exercícios que fazíamos, confundíamos muito quem era quem.” O cenário assemelha-se a uma pista de discoteca, escura, com batidas techno que se socorrem da cadência do ritmo cardíaco. É que, por vezes, o excesso de luz também impede a visão.
A Importância de Ser George Bataille > São Luiz Teatro Municipal > R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa > T. 21 325 7640 > até 19 mai > sex-sáb 21h, dom 17h30 > €12