Correm e entrelaçam os braços, correm e entrelaçam os braços. No final da primeira parte da peça da alemã Sasha Waltz, Impromptus, os bailarinos têm necessidade de se encostarem uns aos outros para aquietarem a própria fragilidade, como se dependesse dessa confiança a capacidade de continuarem. A coreografia de Impromptus é baseada na estrutura de uma composição musical clássica – em palco vão estar a voz e um piano a interpretar as composições de Schubert a que a peça rouba o nome –, e os bailarinos apresentam-se como peças visíveis de uma engrenagem, no caso o mecanismo da composição. O palco é feito de duas grandes plataformas inclinadas, e os bailarinos têm de lidar de forma constante com esse precipício chamado “falha” – uma exploração do corpo no que este tem de delicado e de vulnerável.
Além de duas partes com grupos numerosos, três duetos fazem, também, parte do corpo desta peça. O primeiro está ligado à ideia de dependência, o segundo à de memória, e o terceiro à de confiança. “Cada dueto tem uma tarefa. O primeiro dueto tem que ver com o ser-se dependente um do outro, o estar fisicamente deslocado do próprio centro: sempre à beira de cair, e o outro sempre a evitar essa queda”, diz à VISÃO Se7e Michal Mualem, bailarina que já interpretou Impromptus e foi agora assistente nos ensaios aos bailarinos da Companhia Nacional de Bailado. “O segundo dueto é acerca de se dançar com a memória que se tem do outro. É mais mental, teatral, é sobre a forma como projetas, como te relacionas com a ausência do outro”, continua Mualem. “E o terceiro resulta da exploração da ideia de que, quando estás com alguém há muito tempo, confias por inteiro nessa pessoa”, completa Cláudia de Serpa Soares, outra bailarina que já interpretou. “Respiram juntos, sabem exatamente o que o outro vai dizer ou fazer.”
Impromptus > Teatro Camões > Passeio do Neptuno, Parque das Nações, Lisboa > T. 21 892 3470 > 25 abr-5 mai, qua-sex 21h, sáb 18h30, dom 16h > €5-€25