É um período sem precedentes, este em que a ocupação humana do território e a exploração dos recursos do planeta Terra coloca em perigo a sobrevivência. Uma nova era denominada pelos cientistas de Antropoceno, que servirá de ponto de partida para uma conferência dançável (ou dança conferenciável), encabeçada por João dos Santos Martins e Rita Natálio, onde convidados (ou curadores) das áreas da ecologia, da dança, da antropologia, da música e das artes visuais sobem ao palco e contribuem com as suas investigações.
João dos Santos Martins, um dos destacados novos criadores portugueses, praticante de um constante questionamento artístico, algures entre a performance e a dança, já se tinha aventurado no formato conferência (nomeadamente, em Projeto Continuado, Prémio Autores/SPA para melhor coreografia de 2015). Junta-se agora a Rita Natálio, cujo percurso vagueou entre a escrita, a dramaturgia e a performance, além de se dedicar, atualmente, a um duplo doutoramento em Estudos Artísticos e Antropologia, justamente sobre as relações entre arte e Antropoceno/Capitaloceno. “Houve uma migração do debate sobre a pegada humana para o campo das Ciências Sociais, implicando também uma desestruturação da maneira de produzir conhecimento”, explica Rita Natálio. Neste espetáculo em forma de palestra haverá plantas a discutir os seus direitos jurídicos, sacos de plástico a suicidarem-se e animais a fazerem petições contra a sua extinção. Lugares comuns da ecologia e do ativismo ambiental serão estraçalhados, colocando em confronto modelos de natureza e de humanidade, para que seja possível repensar o nosso modo de viver e de existir. Uma pesquisa que também influenciará a criação coreográfica, livre de vícios de autoria e sem obedecer a anatomias padrão.
Antropocenas > São Luiz Teatro Municipal > R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa > T. 21 325 7640 > 27-29 out, sex-dom 21h > €12 a €15