José Barahona é um realizador português que emigrou para o Brasil, com o afinco de prosseguir o ofício de cineasta, em tempos em que a crise agravou ainda mais as dificuldades de fazer cinema em Portugal. Curiosamente, a sua estreia em longa-metragem de ficção fala de um brasileiro que rumou a Portugal em busca de melhor sorte. Há assim um jogo invertido de espelhos, entre a personagem e o próprio realizador.
Sérgio tem uma história comum. Retrato típico da onda de imigração brasileira em Portugal, que atingiu o auge na primeira década do século XXI. Acompanhamos de perto este caso exemplar. Da sua vida pacata e tranquila, numa pequena cidade do estado de Minas Gerais, até ao construir e desmoronar do sonho português. Lisboa é o El Dorado deste brasileiro, o paraíso de onde nada mais se espera senão boa gente e prosperidade.
Estive em Lisboa e Lembrei de Você parte do livro de Luiz Ruffato. E Barahona procura, na medida do possível, manter-se fiel à estrutura da obra. Também por isso opta por um estilo híbrido, trazendo para a ficção elementos do documentário (género em que tem trabalhado), colocando, por exemplo, o ator a falar diretamente para a câmara a contar-nos a sua história.
Da mesma forma, salvo os papéis principais, recorre a não atores, apostando também numa maior liberdade interpretativa, dando ao filme uma naturalidade realista própria dos documentários. Estive em Lisboa e Lembrei de Você fala-nos do outro lado da imigração, uma oportunidade para olharmos para nós próprios através dos olhos dos outros.
Estive em Lisboa e Lembrei de Você > de José Barahona, a partir de Luiz Ruffato, com Paulo Azevedo, Renata Ferraz, Amanda Fontoura > 94 min