Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Luz Vermelha parte de um caso com 16 anos para falar de tráfico humano, xenofobia, relações de poder e casamentos disfuncionais. Patrícia Müller repescou o drama do movimento de mulheres que se uniram contra as prostitutas brasileiras que estavam a roubar-lhes os maridos. Depois de um abaixo-assinado para travar aquilo a que elas chamaram “uma autêntica onda de loucura”, que chegou aos jornais e às autoridades, a história das “Mães de Bragança” foi mesmo capa da Time, em outubro de 2003. A revista escrevia na sua manchete que Bragança era “o novo bairro de prostituição europeu”, numa reportagem intitulada Quando as meninas chegam à cidade.
Os 13 episódios de Luz Vermelha, realização de André Santos e Marco Leão, habituados ao universo das curtas-metragens, focam-se na vida de Bruna (interpretada por Mariana Badan, 26 anos, atriz, cantora e artista plástica brasileira), uma rapariga que veio do Brasil deixando um filho para trás para tentar a vida noutro país e começar do zero. Em paralelo, seguimos a investigação de uma jornalista (Margarida Vila-Nova), mas muita da ação se passa no ambiente noturno do bar de alterne, onde veremos Sofia Nicholson, como a madame, e Joaquim Monchique, o dono do bar, num registo menos cómico do que é habitual. “É um ambiente naturalmente recheado de violência e de opressão. Mas é também uma reflexão sobre questões morais”, descreve Patrícia Müller. E, apesar de as personagens femininas serem determinantes na narrativa, “não é uma história de mulheres. É uma história de pessoas, num microcosmos particular, onde os segredos vêm ao de cima”. Sem cenas de pancadaria gratuitas nem nudez desbragada nas cenas de sexo, o que mais importa é o lado humano, e em Luz Vermelha as prostitutas não são nem vítimas nem marginais.
Luz Vermelha > RTP1 > Estreia 11 out, sex 22h15