Ao contrário de Alfonso Cuarón, em Roma, que aproveitou o impulso da Netflix para fazer uma obra cinematográfica grandiosa, com um tratamento de imagem e perspetiva que pede um grande ecrã, Steven Soderbergh direcionou o seu trabalho para a plataforma, fazendo um filme de planos mais fechados que, no limite, até pode ser visto no telemóvel sem que se perca demasiado.
Durante muito tempo, Soderbergh alternou entre dois tipos de cinema. Um, mais comercial, patrocinado pela indústria, capaz de ganhar Oscars – como aconteceu com Tráfico. Outro, independente, alternativo, mais livre, capaz de expor um conceito próprio de cinema. Quase que dava a ideia de que um servia para financiar o outro, sendo que o realizador norte-americano sempre soube trabalhar bem em ambos os registos. O Céu é o Limite está nitidamente mais próximo do primeiro tipo de registo, só que sem ambições maiores, sequência natural das séries que tem realizado nos últimos tempos, como Mosaic e The Knick.
É uma história do basquetebol e dos seus meandros empresariais e financeiros, que habitualmente relegam para segundo plano o desporto em si. Ray é um agente, em aparente decadência, que vê no lock out da liga uma oportunidade de negócio e de se reinventar, salvando a sua pele. Acaba por refrescar a forma como se olha para o desporto, recentrando prioridades e protagonistas. O filme, pois, passa-se entre jogos de bastidores, pequenos golpes e peripécias, estratégias arrojadas. Nunca chegamos a entrar em campo, o verdadeiro jogo faz-se cá fora. Nesta sua faceta mais televisiva, Soderbergh, de forma muito natural, convoca atores conhecidos de séries, como André Holland, Teea Loreal e Melvin Gregg. Ainda não é desta que voltou a fazer cinema.
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O Céu é o Limite > disponível a partir de 8 fev, sáb