Quando veio para Lisboa, aos 20 e poucos anos, José Antunes Ribeiro podia ter enveredado pelo jornalismo (escreveu no Notícias da Amadora, no suplemento juvenil do Diário de Lisboa e na revista O Tempo e O Modo), mas os livros levaram a melhor. Sabia desde pequeno que não queria ir para a agricultura, como a maioria dos meninos com quem brincava na rua. Um dia, quando a mãe o pôs a sachar, não distinguiu o chícharo das ervas daninhas e estragou toda a plantação da leguminosa. Meio caminho andado para nunca mais voltar a trabalhar a terra.
Em Alburitel, aldeia perto de Ourém onde nasceu há 73 anos, a professora primária despertou-lhe o gosto pelas leituras, dando-lhe a conhecer desde Júlio Verne a Eça de Queirós. Com as visitas da biblioteca itinerante da Gulbenkian descobriu a poesia, Ruy Belo, Eugénio de Andrade ou José Blanc de Portugal, onde ainda hoje volta em vez de tomar antidepressivos. “Ter fundado a Ulmeiro sem dinheiro foi uma aventura, hoje seria uma loucura”, assume José Antunes Ribeiro que, nos últimos quatro anos, viu os clientes afastarem-se. Numa tentativa de dar a volta à sua própria crise financeira, em 2015, iniciou os leilões diários no Facebook, com lotes de 30 a 40 livros, a pelo menos metade do preço. Conseguiu voltar a atrair os clientes mais antigos e outros novos. “Sempre acreditei que todos os livros terão um interessado virtual”.
Entre os mais de 200 mil títulos desarrumados nas prateleiras dos dois pisos da livraria da Avenida do Uruguai, em Benfica, José Antunes Ribeiro acredita ter uma relíquia, “não por ser antigo, mas por ser feito pelo mesmo tipógrafo da primeira edição de Os Lusíadas, Pedro Craesbeeck” – um livro de Direito, de 1611, de Álvaro Velasco. Nesta casa, por onde passaram Agostinho da Silva, Fernando Assis Pacheco, Zeca Afonso, David Mourão Ferreira, Carlos Paredes, Natália Correia e Mário Viegas (que naquela cave terá dito poesia pela primeira vez), há um livreiro. “É o fator humano que faz a diferença. Primeiro, a paixão pelo livro, depois ler qualquer coisita além das badanas, ter alguma cultura além das Humanidades e a possibilidade de falar com o cliente, respeitando sempre a sua opção”. E a Ulmeiro tem isso tudo e muito mais.
Espaço Ulmeiro > Av. do Uruguai, 13 A, Benfica, Lisboa > T. 21 809 9823 > seg-dom 10h-19h30