A excecionalidade britânica está na ordem do dia nestes tempos labirínticos, e sem saída airosa à vista, à conta do Brexit. E não deixa de ser curioso que algumas destas crónicas, escritas há mais de 170 anos em terras de Sua Majestade, possam ser lidas hoje com a vivacidade que só uma ligação ao presente pode dar. The Snobs of England, by one of themselves foi uma coluna publicada, em 1846 e 1847, com grande êxito, na revista Punch, assinada por William Makepeace Thackeray (reconhecido autor do romance A Feira das Vaidades e de Barry Lyndon, que seria adaptado por Kubrick ao cinema, em 1975). A ironia, o humor e a crítica de costumes são o cimento que une todos estes textos – bastante palavrosos, com muitas histórias e casos – à volta da figura dos snobs, a dada altura assim categorizados: “Se é um presunçoso e um impostor, se é afetado e lhe falta humildade, se tem falta de caridade e a sua insignificante alma o faz rebentar de orgulho.”
Mas, numa altura de grandes convulsões e revoluções na Europa, note-se que estes são, também, escritos políticos e comprometidos com uma visão da sociedade. Thackeray ansiava por ultrapassar um mundo de privilégios e de elites autoimpostas, apostando em novos valores mais justos. “Não consigo suportar mais esta diabólica invenção que mata a bondade natural e a amizade sincera”, escrevia na sua última crónica. “Tudo isso estava muito bem para os mestres-de-cerimónias de tempos que já lá vão.” E Thackeray estava completamente certo quando escrevia, à laia de despedida: “E se nos fosse dado viver por mais cem anos, acho que teríamos sempre assunto de conversa neste gigantesco tema dos snobs.” Até mais de cem anos, excelentíssimo senhor…