No Pestana Churchill Bay, na ilha da Madeira, a olhar a baía de Câmara de Lobos

É feita de histórias esta cidade piscatória situada na costa sul da Madeira, a menos de dez quilómetros do Funchal. Câmara de Lobos foi a primeira morada de João Gonçalves Zarco, um dos navegadores portugueses que descobriram a ilha, em 1419, e a sua baía era lugar de refúgio de lobos-marinhos – daí o nome dado à cidade –, antes desta espécie, em vias de extinção, se ter refugiado nas Ilhas Desertas. Já a paisagem, ficou eternizada numa tela pintada por Winston Churchill, nos primeiros dias de 1950. É precisamente esse episódio que o Pestana Churchill Bay, aberto em junho, pretende eternizar.

Dos 57 quartos, divididos por dois edifícios – um ocupa os antigos Paços do Concelho, com 12 quartos, o outro surgiu da recuperação da antiga lota de peixe abandonada há anos, onde se encontram os restantes 45 – vê-se (e ouve-se!) o mar. Seja das varandas, seja das janelas que se abrem sobre a baía de casas coloridas, com os pequenos barcos de pesca do peixe espada-preto (os xavelhas) ancorados, temos a mesma pitoresca paisagem que inspirou o político britânico. É essa pintura, aliás, que está reproduzida no papel de parede dos quartos e são de Winston Churchill também as frases que decoram os corredores dos três pisos do hotel. No exterior, está a escultura do antigo primeiro–ministro inglês, numa obra de bronze da autoria de Martim Velosa.

Poncha, caramujos e lapas grelhadas
Manter a memória deste lugar foi a preocupação do Pestana Hotel Group, quando decidiu ali construir a primeira Pousada de Portugal na ilha da Madeira. “O local é encantador, a manhã é o melhor momento do dia, com o Sol a nascer e os barcos a chegarem”, diz Dionísio Pestana, presidente do Grupo Pestana. A ligação da pousada ao património da cidade foi fundamental. “Aqui temos a história de Câmara de Lobos, do pescador, da vida dura das pessoas que pescam durante a noite e convivem durante o dia. Tudo isto cria uma mística e complementa o que os turistas procuram”, sublinha o gestor.

As memórias da antiga vila piscatória, onde a poncha terá sido inventada pelos pescadores, continuam tanto na carta do restaurante Pier One como na do bar Dock. Diogo Soares, 22 anos, natural de Câmara de Lobos, assumiu o comando da cozinha do restaurante, na qual abundam os pratos típicos da Madeira, como o bolo do caco com manteiga de alho (€3,50), a espetada à madeirense em pau de louro (€16), os caramujos (€8,50), as lapas grelhadas (€9,50), o polvo à Churchill (€16), além dos peixes do dia ou do tradicional picado de carne, acompanhados de milho frito ou de batata-doce frita. Os sabores madeirenses continuam nas sobremesas, com o pudim de maracujá ou o carpaccio de ananás com sorvete de limão perfumado com calda de coentros e hortelã. Já no bar Dock, são as ponchas (regional, à pescador, de tangerina ou de maracujá), a Nikita e o vinho da Madeira as bebidas que mais se destacam. Mesmo a pedir um brinde a Sir Winston Churchill, que mostrou esta baía ao mundo. Cheers!

Três sugestões de passeio em Câmara de Lobos

1. Passeio no barco “São João de Deus”

São dois os passeios a bordo de um xavelha, um dos últimos barcos tradicionais de pesca de peixe-espada-preto, a partir do cais de Câmara de Lobos: um parte de manhã (9h30) e deixa os passageiros na Fajã dos Padres ou no Calhau da Lapa (regresso pelas 17h30); o outro propõe uma viagem de duas horas e meia até à Ribeira Brava, com possibilidade de mergulhar no Cabo Girão e de ver os golfinhos e baleias no mar. Cais Câmara de Lobos > seg-dom 9h-19h > T. 96 714 3910 / 96 717 9610 > €15-€25 (adultos), €10-€15 (menores de 12 anos)

2. Fajã dos Padres – Quinta e Restaurante

Só há duas formas para se chegar à Fajã dos Padres: de barco ou no teleférico panorâmico, que desce uma escarpa de 250 metros (€10/ida e volta). O clima, junto ao mar, beneficia a agricultura com certificação biológica: desde a vinha de casta Malvasia até às bananas, mangas, peras-abacates, pitangas, maracujás ou tamarilhos. Na quinta, fazem-se visitas guiadas, já no restaurante privilegiam-se os sabores típicos da ilha, como o bife de atum grelhado com ervas aromáticas e o filete de peixe-espada com banana frita. R. Padre António Dinis Henriques, 1, Quinta Grande > T. 291 944 538 > seg-dom 10h-18h > visita guiada €7,50 (seg, qua-sex e dom 11h30, 60 min.), visita com prova de frutas €25

3. Poncha

Foi em Câmara de Lobos que a poncha foi inventada pelos pescadores. A original, ou à pescador, leva aguardente de cana–de-açúcar, sumo de limão e açúcar, mas há outras versões: maracujá, tangerina, pitanga, absinto. Aqui também foi criada a Nikita, bebida feita com vinho ou cerveja brancos, gelados de vários sabores, ananás e açúcar. Bar Agrela > Bar Filhos do Mar > É Prá Poncha > Lg. do Poço, Câmara de Lobos