A linha de montagem sucede-se com a elegância de uma dança, como se um maestro imaginário conduzisse quem ali trabalha o vidro, tubos de ferro que rodopiam no ar, peças que entram e saem dos fornos fumegantes (as temperaturas podem chegar aos 1 000oC), ajustes que se fazem na fase de seleção final. A coreografia não está estudada, mas parece, até porque manipular o calor e o frio não é para todos.
Exceção feita ao mestre António Esteves, que por ali se mexe com a naturalidade de quem começou a soprar o vidro no dia em que fez 12 anos. “Achava bonito ver a fusão do material, o calor”, conta. Passou por várias fábricas, com destaque para o Estúdio Jasmim, na Marinha Grande, e aprendeu com os melhores. Já estava reformado, mas quis juntar-se ao staff da fábrica de vidro e cristal da Vista Alegre, antiga Atlantis, em Alcobaça, onde lidera uma equipa de quatro elementos (um deles uma mulher, caso raro nestas andanças), responsável pela Única. De art crystal e vidro, esta nova coleção é soprada, e trabalhada à mão por artesãos, e divide-se em quatro linhas, imaginadas por três designers da Vista Alegre. Em Portal, Diana Borges reflete sobre a relação entre o Homem e a Natureza, num processo que é “artístico e intuitivo, sem recurso a moldes, por isso, nenhuma peça é igual à outra”, descreve, entusiasmada com esta liberdade. Já Bruno Escoval, autor de Ripple e Caneleto, diz que o facto de as coisas não saírem à primeira faz parte do encanto. “É um trabalho muito próximo do vidreiro, que implica tempo e capacidade de experimentar.” Nas peças Ripple, por exemplo, o vidro fica à mercê da gravidade, deixando-se cair como uma gota antes de lapidar, explica, enquanto pega numa jarra e a vira ao contrário.
Trilogy, de Hugo Amado, é uma homenagem a quem dedica vidas inteiras a esta arte, que tem na técnica da garrafa de seis vinhos um marco. “Quem queria ser vidreiro tinha de dominá-la”, conta Hugo, que é responsável, há 24 anos, pelo Gabinete de Desenvolvimento de Produto dos Cristais Atlantis. “Uma vez que trabalhamos estas peças sem moldes, o mestre Esteves pode depois usar os dedos [protegidos por um jornal molhado] e nós podemos fazer experiências, inclusivamente com as cores. O melhor é quando as coisas acontecem por acaso e depois temos de perceber como repeti-las”, ri-se.
Coleção Única > À venda nas lojas Vista Alegre e em www.vistaalegre.com > a partir de €380