Se este texto levasse tanto tempo a escrever quanto aquele que passámos a provar alguns pratos e a ouvir o chefe de cozinha a discorrer sobre as ideias que estiveram na base do Gioia Food Lab, teria a direção da revista de cabelos em pé. Confessamos o quão difícil vai ser resumir no papel as sensações que trouxemos do novo restaurante da Praça da Alegria, em Lisboa, portas-meias com o Hot Club. Como entrámos de dia, deixando um sol outonal para trás, custou-nos a ambientar-nos à pouca luz lá dentro. Que, no entanto, foi mais do que suficiente para apreciar os pormenores da decoração, com destaque para o mezanino e para os três jardins verticais que animam a sala em tons de castanho, das madeiras aos confortáveis sofás que servem as mesas intimistas.
Começamos por dizer, ainda que pareça um à parte, que a água servida está purificada e nos chega em garrafas do tipo balão de ensaio (é um laboratório, lembram-se?) com um ph neutro. Depois, podemos acrescentar, se quisermos continuar nas informações laterais, que os donos são dois irmãos, o Tiago e o Gonçalo, e que andam sempre por lá. O chefe chama-se Daniel Estriga e, aos 29 anos, já sabe bem o que faz. Nota-se que encontraram a sintonia, nisto de criar um restaurante inclusivo, mas com sérias preocupações em ligar gastronomia e saúde. Trigo é coisa non grata, a maioria dos produtos são biológicos, nada se adoça com açúcar e o verbo processar não se conjuga.
O menu que reflete essas premissas está organizado de forma original. Provámos um dos laminados e crus, que custa oito euros (este parentesis serve para ressalvar que os pratos não são baratos e nem podiam ser porque a cozinha tem muitas exigências que encarecem o produto final). Trata-se de umas lâminas de maçã, embebidas em sumo de beterraba, com iogurte, gel de framboesa e frutos vermelhos. Uma entrada leve que deve estar a sair da ementa, porque a sazonalidade assim o obriga. Para a comer, pegamos nos elegantes talheres dourados, arrumados num copo exatamente do mesmo tom, que nem por acaso liga com os candeeiros que nos iluminam.
Podemos falar também da pizza marguerita (€14), de espelta e kamut, muito leve, com tomates cherry de vários tipos e rebentos de manjericão. Ou do Boca Negra dos Açores (o peixe vem quase todo de lá), acompanhado de puré de beringela, molho holandês e espinafres salteados. A abordagem pode ser cirúrgica, e provar-se uma coisa de cada vez para melhor se perceber as texturas e constrastes no palato, ou misturar-se tudo na mesma garfada e ter uma experiência global. Para harmonizar, há uma enorme carta de bar – de sumos detox a cocktails de autor, sem açúcar se faz favor.
Ao almoço, a ementa é para esquecer. Em vez dela, há um menu executivo a €18,50, em que se escolhe um de três pratos, uma de três entradas ou sobremesas (mudam todas as semanas), e ainda se pode comer o couvert (delicioso) e pedir uma bebida.
Gioia Food Lab > Pç. da Alegria, 50, Lisboa > T. 21 139 30 86 > dom-sex 12h30-15h, 19h30-23h30, sáb 19h30-24h (bar, com dj: qui-sáb 20h-1h)