Um terço da nossa vida é passado a dormir e sabe-se ainda muito pouco sobre o que sucede quando estamos de olhos fechados. Mas uma coisa é certa: o sono revela-se essencial para o equilíbrio psicológico e para a sedimentação das memórias. Mathew Walker tem dedicado boa parte do seu tempo de investigador, na Universidade de Berkeley, na Califórnia, a estudar este assunto. Num dos trabalhos, o psicólogo e neurocientista verificou que é durante a segunda metade da noite que o cérebro faz uma espécie de limpeza, que lhe permite adquirir novos conhecimentos, no dia seguinte. Neste período, ondas cerebrais, conhecidas como fusos de sono, parecem estar a estabelecer ligações entre diferentes regiões da cabeça. “Estes impulsos elétricos ajudam a deslocar as memórias factuais do hipocampo – que tem um espaço de armazenamento limitado – para o disco rígido do córtex pré-frontal, libertando, assim, o hipocampo, e preparando-o para receber dados novos”, lê-se num paper daquela universidade. Estes fusos – impulsos elétricos gerados durante o sono não-REM (altura em que não sonhamos) – podem ocorrer até mil vezes por noite, sobretudo na segunda parte. O que quer dizer que, se dormirmos seis horas ou menos, podemos estar a diminuir a nossa capacidade de aprender. As diferenças chegam a atingir os 40% entre um grupo que dormiu oito horas e outro que dormiu menos do que isso.
Noutro trabalho, Walker estudou o efeito de sestas de uma hora e meia e verificou que o grupo de voluntários que dormia a meio da tarde aprimorava a sua capacidade intelectual, além de conseguir fixar melhor novos dados do que os que se mantinham acordados o dia todo. A falta de sono também transforma as pessoas numa montanha russa comportamental, uma vez que a amígdala, o centro de processamento das emoções, se torna hiperativa. Com tantos dados na mão, e um excelente poder de comunicação, Mathew Walker é, hoje, uma espécie de ativista do sono – esteve, recentemente, em Lisboa, na Fundação Gulbenkian, a alertar para os riscos de uma sociedade que vive com défice de descanso. “Isto”, elucidou, “é visível tanto numa mãe cansada que perde a paciência com o filho insistente, como num médico de banco que se irrita com um paciente agressivo. São estes episódios do dia a dia que nos dizem que as pessoas não dormem o suficiente.”
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