O protesto pelo clima parece estar a tornar-se uma causa de todos, pelo menos se olharmos para aqueles que saíram à rua na sexta-feira, 27 de setembro. Na manifestação estiveram presentes crianças acompanhadas pelos pais, adultos – homens de fato e gravata, professores, idosos e jovens adultos pertencentes a organizações não-governamentais (ONG) ou juventudes partidárias – e muitos adolescentes. Os mesmos que iniciaram as greves pelo clima em março deste ano.
Depois do apelo feito pelo coletivo Greve Climática Estudantil, que organizou, nessa altura, a greve pelo clima, a sociedade civil parece ter ouvido os mais novos: às 3 da tarde, a praça do Cais do Sodré, onde se reuniram os manifestantes antes de rumarem ao Rossio, estava cheia. Viam-se dezenas de cartazes em português e em inglês e os gritos ao megafone também foram traduzidos: «Power to the people» (o poder ao povo) ou «O que é que nos queremos? Mudar enquanto podemos!»
«As pessoas estão a acordar»
Ali, a VISÃO Júnior falou com Clara Pestana, 13 anos, que já tinha participado na manifestação de março e que, desde então, foi percebendo que esta causa «é mesmo muito importante e que podia contribuir de outra forma». A estudante de Lisboa integra o coletivo Greve Climática Estudantil e explica por que a greve deixou de ser só dos estudantes: «Convidámos toda a sociedade a juntar-se a nós porque, apesar de este ser o nosso problema, já que somos o futuro, não somos os únicos a lidar com as alterações climáticas. É um direito e dever de todos lutar pelo Planeta». e explica o que tem feito: «Dentro do coletivo, durante estes meses, aprendemos muito. Aprendemos como cativar as pessoas e explicar-lhes que esta causa é mesmo importante. Sentimos que estamos a ser cada vez mais ouvidos, que os meios de comunicação e as pessoas estão a acordar.»
Logo ao lado, a reunir as «tropas», estavam pais e filhos pertencentes à comunidade Tamera, uma vila comunitária e sustentável que pertence à Grace Fundation. «Nós precisamos do planeta Terra, todos nós. No nosso caso, a motivação chegou tanto dos mais velhos como dos mais novos». Vieram do Alentejo, perto de Odemira, porque sentem que estar presentes faz parte da sua mensagem. Ainda no Cais do Sodré, um empresário da Noruega que investe em tecnologia ambiental também quis estar presente. «Quero apoiar a próxima geração e estou triste com o que está a acontecer ao Planeta e à natureza. Os meus colegas empresários precisam de acordar!»
Palavras de ordem
Já durante a marcha, um cartaz apela à extinção da Central Termoelétrica de Sines. Quem o exibe é Vítor Silva, um ativista que diz já não ser «nenhum adolescente». Tem mais de 70 anos e pensa que «os mais velhos têm de ter mais juízo e de atacar os problemas com a urgência necessária». Desenhou o cartaz e focou-se na central do litoral alentejano porque «é a principal poluidora do país. Emite cerca de 7 ou 8 toneladas de CO2, o que equivale ao CO2 resultante do incêndio de Pedrógão Grande de 2017».
A certa altura, eram já milhares a atravessar o Terreiro do Paço, a caminho do Rossio. Entre a multidão, uma mancha encarnada destacava-se. Eram as Red Rebel Brigadas, e os seus elementos, com fatos vermelhos e caras pintadas de branco, diziam «simbolizar o sangue perdido de todas as espécies extintas», chamando à atenção para o facto de não só os seres humanos sofrerem com as alterações climáticas.
Chegados à praça, junto à estátua de D. Pedro IV, houve discursos de vários grupos, como a Amnistia Internacional, a plataforma TROCA e mais do que um sindicato de professores. «Deixei de dar aulas hoje porque este é o tema mais importante da atualidade. Para mim, é muito mais importante estar aqui, nesta hora e meia de aula que não dei. Entre as alterações climáticas ou perderem uma aula, o que é que vai afetar mais mais os meus alunos?», pergunta Deolinda Florêncio, professora na Escola Básica D. Carlos I, em Sintra, que está a assistir aos discursos com outras colegas.
Uma manifestação sem lixo
No final, houve ordem para fazer o percurso da manifestação ao contrário, à procura de lixo que pudesse ter ficado na Rua Áurea. Beatriz Salema, 16 anos, que esteve presente na manifestação de março, não hesita quando faz a comparação: «A greve de hoje foi ainda mais importante. As eleições estão à porta e, apesar de ainda não votar, é importante que os partidos percebam que as alterações climáticas são um assunto de todos nós.»