A escritora Luísa Ducla Soares esperava na sua casa, em Lisboa, pelos entrevistadores seleccionados na iniciativa Conheço Um Escritor, que a VISÃO Júnior promoveu em 2011. Os três felizardos vieram de longe para conhecer a autora. Carolina Cruz, 12 anos, estuda no 6ºD da EB 2,3 Poeta Bernardo de Passos, em São Brás de Alportel, Algarve. Gonçalo Costa, 7 anos, está no 1º ano da EB1 Bairro Duarte Pacheco, em Braga e Manuel Araújo, 8 anos, veio de Leiria, do 2º ano da Escola Amarela. Juntos, fizeram as perguntas dos leitores da VISÃO Júnior.
Nota: esta entrevista foi inicialmente publicada em 2011.
Muitos dos seus livros falam sobre bichos. Tem alguma animal de estimação?
Dinora Coelho, José Rodrigues e Ricardo Coelho, EB 2,3 da Correlhã, Ponte de Lima
Tenho três animais de estimação. Dois pássaros e um hamster. O que eu gostava era de ter um cão ou um gato, mas não posso porque já tenho estes. Ao longo da minha vida tive mais de 70 animais de estimação. Morrem uns, vêm outros. Estão sempre a mudar.
Na história Sementes de Macarrão fala muito de agricultura. Além de cultivar mentes, também gosta de cultivar a terra?
5º ano Nº5, Escola Cooperativa Didáxis, Riba de Ave
Gosto! Até tenho algumas plantas na varanda. Adoro cultivar e mexer na terra. O meu sonho era ter um grande jardim.
Tem algum lugar especial para escrever os seus livros?
5ºA, EB 2,3 Poeta Bernardo de Pa ssos, São Brás de Alportel
Em toda a parte eu escrevo. Só há dois sítios onde não escrevo. Na casa de banho, porque se o livro caísse na banheira era mau. E na cozinha, ainda deixava o livro cair na panela!
Prefere escrever acompanhada ou sozinha?
João Lourenço, Leandro Rodrigues e Nelson Dantas, EB 2,3 da Correlhã, Ponte de Lima
Prefiro escrever sozinha, se estiver acompanhada estão sempre a falar comigo e não me deixam concentrar.
O livro Meninos de Todas as Cores leva-nos a pensar nas diferentes raças. O racismo preocupa-a?
5ºA, EB Sebastião da Gama, Estremoz
O racismo preocupa-me muito. É incrível como tantas guerras têm sido causadas pelo racismo. As pessoas continuam a não se compreenderem e, pior do que isso, a odiarem-se pelas diferenças entre as raças. Há gente boa ou má em todas as partes, não é por terem uma nacionalidade diferente que são melhores ou piores.
Costuma recriar os contos tradicionais. Acha importante adaptá-los às crianças de hoje?
Carolina Cruz, 6ºD, EB 2,3 Poeta Bernardo de Passos, São Brás de Alportel
Por um lado, acho que eles ganham ao serem adaptados aos tempos modernos para serem vistos com outros olhos. Por outro, também não acho mal nenhum que eles seja contados à moda antiga. Até acho curioso fazer as duas leituras. Como eles eram encarados na época e como são vistos hoje.
Alguma vez se emocionou a escrever um livro?
4ºB, Escola Básica do Seixo, Gondomar
Já me emocionei a escrever um livro que dediquei a um filho meu que morreu. Quando uma mãe perde um filho tem um desgosto muito grande.
Qual foi o livro que demorou mais tempo a escrever?
Diana Silva, 9ºB, EB 2,3 Comendador Ângelo Azevedo, Oliveira de Azeméis
Para os mais novos foi O Diário de Sofia, que demorou cerca de um ano. O mais rápido demorou duas horas! Chama-se Mãe, Querida Mãe.
Já escreveu um livro em parceria com uma criança?
5ºA, EB 2,3 Poeta Bernardo de Passos, São Brás de Alportel
Fiz um livro em parceria com os meninos de um jardim-escola pela internet. Visitei a escola e os meninos depois pediram-me ajuda para fazer uma história sobre um sapo. Eles mandavam-me o que escreviam e eu mandava a minha parte. Tudo pela internet.
Depois de escrever um livro sente-se cansada ou ainda tem mais ideias?
Pré-escolar EB1/JI Agostinho da Silva, Guimarães
Quando acabo um livro não começo logo outro. Às vezes passo a noite sem dormir para escrever. Por isso, quando acabo um livro, fico cansada.
O que sente quando vê o seu nome nos livros?
Patrícia Pandeiro, Massamá, Lisboa
A primeira vez que vi o meu nome num livro fiquei toda entusiasmada. Lia-o de frente para trás, de trás para a frente, oferecia-o aos amigos. Agora, como já publiquei 110 livros, já nem sei quando sai um livro novo.
Se vivesse na época dos Descobrimentos, qual era a região que gostava de descobrir?
João Coelho, 4º ano, Escola Básica de Glória, Estremoz
Tinha de ser um sítio que ainda não tivesse sido descoberto… O que eu gostava mais de descobrir era a América. Também podia descobrir a Madeira que sempre fica mais perto, mas acho que descobrir a América era mais giro.
O que acha da crise que Portugal vive actualmente?
Ubirajara Daniel, 8 anos, Centro Escolar José Pinheiro Gonçalves, Monção
É uma crise muito triste. É triste para os novos e é triste para as pessoas mais velhas, como eu. Espero que consigamos debelar a crise porque temos de ter confiança no futuro. Aquelas pessoas que gostam de ter tudo, incluindo os meninos que se deixam entusiasmar ao entrar no hipermercado e que querem ter todas as coisas, pensam que todo o mundo está ao alcance da sua mão, mas não está. Agora, estamos numa época em que temos de poupar e fazer sacrifícios. É isso que temos de interiorizar.
Já imaginou como seria a sua vida se não fosse escritora?
Catarina Martins, EB1 de Silves
Ao longo da minha vida tenho tido sempre outras profissões. Já fui tradutora, jornalista, dei aulas, trabalhei em editoras, no Ministério da Educação e estive muitos anos na Biblioteca Nacional. Acho que é bom um escritor levar uma vida de trabalho igual à das outras pessoas para viver os problemas que toda a gente vive.
O hamster entrevistador
Quando a porta se abriu, depararam-se com a primeira surpresa do encontro, o hamster da escritora Luísa Ducla Soares, Babaiuco. Todos repetiam o nome do pequeno roedor até acertarem em todas as letras. Ninguém ficou intimidado com a sua presença e, em menos de nada, Babaiuco já fazia parte do grupo e passava de mão em mão.
Carolina Cruz, 12 anos, Manuel Araújo, 8 anos, e Gonçalo Costa, 7 anos, começavam desta forma a visita a casa de uma das suas escritoras preferidas. Carolina veio de São Brás de Alportel (Algarve), Gonçalo de Braga e Manuel de Leiria. Mas ninguém se atrasou na chegada a Lisboa.
À hora marcada já estavam em casa da escritora. Apesar de cada um trazer um papel com as perguntas da entrevista na mão, não foi por aí que começaram. Luísa Ducla Soares levou-os primeiro aos sítios mais especiais de sua casa.
A sala onde costuma escrever fez as delícias de todos. Uma pequena janela para o mundo, muitos livros da autora na estante, e uma secretária com um computador portátil. Luísa Ducla Soares só escreve poesia à mão, “porque vem do íntimo e é muito imediato.”
Carolina adorou visitar aquela salinha. Como também gosta de escrever histórias, imaginou-se logo a ter uma ideia brilhante para um livro entre aquelas quatro paredes.
À medida que a visita decorria, os nervos iam desaparecendo. Aos poucos, começavam a sentir que estavam em casa de uma velha amiga. Quando chegou o momento de visitarem o “museu” da autora, ficaram todos entusiasmados. Até porque nem tinham percebido bem do que se tratava.
Desenhos, pinturas, fantoches, ramos de flores. Estava ali tudo. Afinal, o “museu” é uma divisão onde a escritora guarda o que os leitores lhe enviam pelo correio ou lhe dão quando visita escolas. Manuel ficou maravilhado com os fantoches. Alguns representavam personagens de livros, mas havia um da própria Luísa. “Até está parecido, não está?”, perguntou sorridente.
Carolina aproveitou a oportunidade para oferecer algumas coisas, que ficaram logo no “museu.”
As perguntas começavam a surgir naturalmente. Perante tanta curiosidade, o melhor era mesmo começar a entrevista.
Instalados na sala, cada um fazia uma pergunta de cada vez. Carolina e Gonçalo escolheram sentar-se no sofá, mas Manuel preferiu sentar-se no chão.
A entrevista transformou-se numa conversa, em que cada um ia contando histórias, comentando o que a escritora dizia e rindo das graças uns dos outros.
Carolina e Luísa disseram trava línguas uma à outra, Manuel deu alguns presentes à escritora e Gonçalo aproveitou para falar das lengalengas em língua gestual que aprende na escola. Estuda na EB1 Duarte Pacheco, em Braga, uma escola bilingue, que ensina língua portuguesa e língua gestual porque também tem alunos surdos-mudos.
No fim da visita, ainda houve tempo para pedir alguns autógrafos. Especialmente no livro que a autora ofereceu a cada um. A despedida foi entre amigos, com um simples “até já.” Carolina, Gonçalo e Manuel sabem que vão voltar a encontrar a autora. Basta pegarem num livro.
A iniciativa Conheço um escritor é promovida pela VISÃO Júnior em pareceria com o Plano Nacional de Leitura e a Rede de Bibliotecas Escolares.