No 2º período de aulas, recebi o primeiro teste de Ciências e tive negativa. Como iria dizê-lo ao meu pai? A conversa foi a mesma de sempre, porque nunca fui grande estudioso e, quando o meu está muito enervado, chama-me pelos meus dois primeiros nomes:
– Pedro Rafael, não te avisei que tinhas de estudar? Mas eu falo chinês?
– Mas eu estudei! – respondi – Como é que eu podia saber que a serpente é um réptil e não um peixe?
– Vais limpar a cave! Quero os brinquedos todos arrumados e no devido lugar! – disse enervado – Daqui a duas horas quero tudo limpo!
Lá fui eu, chateado, mas o que podia fazer? Os pais é que têm todo o poder!!!
Fui para a cave e, no meio de tantos brinquedos, caixas, livros, encontrei um jogo muito interessante, mas tinha uma etiqueta: “Proibido Mexer”. Proibido, para mim, é a mesma coisa que dizer: “Podes Mexer”, porque sou muito atrevido, devo admitir. Abri a caixa e tirei o tabuleiro. Este retratava uma pequena comunidade, com casas, uma igreja, escolas, jardins, adultos e crianças… No próprio tabuleiro, havia um compartimento com cartões e estes tinham perguntas. Tirei o primeiro que apareceu para começar a jogar e a pergunta a que tinha de responder era: Gostavas de ser pai por um dia?
Disse que sim e avancei o peão. Comecei a encolher, a encolher e, quando dei conta, estava dentro daquela pequena comunidade do tabuleiro. Comecei a andar, assustado, até chegar a uma grande avenida onde reconheci a minha casa. Corri até ela, toquei à campainha, a porta abriu-se e apareceram dois jovens, da minha idade, me chamaram de…PAI. Pai? Corri até um espelho e reparei que afinal me tinha transformado num adulto, com barba e tudo, e tinha dois filhos. Fiquei muito contente. Agora podia ser eu definir as regras lá em casa. Mas a minha alegria passou depressa, quando reparei que nunca faziam nada do que eu mandava: não limpavam os quartos; tinham más notas, pois não estudavam; enfim, eram totalmente desobedientes. Dei comigo a pensar que eu era igual quando estava com os meus pais. Mas que responsabilidade, quem me dera voltar a ser criança. Estava eu a lamentar-me quando alguém me começa a abanar, dizendo:
– Rafael! Acorda!- disse o meu pai.
Ainda extasiado, perguntei:
– Onde estou!
– Calma filho! Foi só um sonho! Começaste a ler um livro e adormeceste! Não sei o que te deu, pois não é um livro para a tua idade. Foi a mãe que o comprou.
Quando reparei, tinha em cima do peito um livro intitulado “E se os pais fossem os filhos e os filhos os pais?”
A verdade é que com esta história, compreendi que os pais às vezes são tão rabugentos, porque se preocupam connosco e gostam de nós!