É frequente faltar a luz na serra. Foi o que aconteceu naquele fim de tarde de dezembro. Por volta das 6 e meia, a D. América, gerente do Hotel Canadá, telefonou ao cabo Lince, muito aflita.
– Ai, sr. cabo, ai, ai! – queixou-se. – Que grande grito que se ouviu no quarto da dr.ª Maria dos Remédios, a médica do hospital! Quando lá entrei, de vela na mão, encontrei a pobre doutora desmaiada, estendida no tapete, com a mala aberta ao lado. Mal conseguiu falar, ainda antes de a luz ter voltado, a doutora disse que lhe faltavam os brincos de ouro que tinha comprado hoje mesmo para oferecer à filha, que faz anos este domingo.
Lince meteu-se logo no jipe. Quando chegou ao hotel já havia luz. Interrogou os hóspedes e apurou que um deles tinha visto o agressor e ladrão da dr.ª Maria dos Remédios. O tal hóspede chamava-se Aguiar e era um daqueles vendedores que andam de terra em terra numa carrinha.
– Eu ia a sair do meu quarto quando ouvi o grito da doutora, coitada! – disse Aguiar. – Vi então abrir-se a porta do quarto dela e sair de lá a correr um tipo com uma cara que metia medo ao susto!
– Pode descrever esse indivíduo? – pediu o cabo Lince.
– Posso, claro – respondeu o vendedor. – Era um sujeito magro, muito alto, de bigode preto fininho. Ia todo bem vestido, com um casaco aos quadrados cinzentos e beges, colete cor de tabaco, camisa azul-claro e gravata com desenhos de âncoras.
– Hum, sim senhor, sim senhor – murmurou o cabo Lince. E acrescentou, em voz mais alta: – Olhe, sr. Aguiar, acompanhe-me ao posto para falarmos um pouco mais. Desconfio que o dinheiro da dr.ª Maria dos Remédios está na sua carteira! Ou no seu quarto…
Em que se baseou Lince para desconfiar do homem? Descobre aqui.