«Que noite!», ia murmurando o cabo Lince enquanto guiava o jipe sob uma chuva miudinha pelos caminhos da serra. O seu destino era o solar do coronel Mil Homens, onde decorria uma festa. Mal entrou no casarão, deparou com a expressão de ansiedade estampada nos rostos de todos os convidados.
− Ai, as minhas joias! Roubaram-mas!
D. Diamantina, a mulher do coronel Militão, retorcia as mãos, angustiada.
O cabo Lince só então reparou que estava a sujar o chão, com as botas molhadas e enlameadas pela chuva.
− O ladrão entrou no meu quarto, que fica no andar de cima, quando estávamos todos aqui em baixo, na sala − continuou a dona da casa. Ninguém viu nada!
− Mas conseguimos descobrir como é que ele entrou − disse o coronel Mil Homens enquanto conduzia o cabo Lince ao jardim. Ali, levou-o, por cima da relva, até debaixo da janela do quarto.
− De quem são estas pegadas? − perguntou Lince, apontando para um sítio onde a relva humedecida estava espezinhada.
− Não sei − respondeu o coronel. − Vim aqui com os meus convidados quando a minha mulher deu pelo roubo e encontrámos a relva assim.
Lince tirou a lanterna do bolso e apontou para a parede da casa. Viu que estava ali encostada uma escada de mão de madeira novinha, ainda por pintar, com os degraus a brilharem sob o facho de luz.
− Comprei esta escada hoje mesmo ao carpinteiro da vila – disse o coronel. − Claro que o gatuno foi buscá-la à arrecadação.
O cabo e o coronel voltaram para a porta de entrada do solar e, antes de entrarem, limparam as solas dos sapatos no capacho. D. Diamantina olhava ansiosamente para Lince. Este perguntou-lhe:
− Como é que a senhora descobriu o roubo?
− Subi ao quarto para dar uma penteadela ao cabelo e encontrei o guarda-joias no chão, aberto e vazio!
− Algum dos convidados já se foi embora? − quis saber o cabo.
− Não, continuam cá todos − respondeu Mil Homens.
− Nesse caso, tanto as joias como o ladrão estão ainda dentro desta casa! − afirmou o cabo Lince.
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