Em 1940, Aristides de Sousa Mendes era cônsul (ou diplomata) de Portugal na cidade francesa de Bordéus. O mundo estava a passar pela Segunda Guerra Mundial – a França e o Reino Unido tinham declarado guerra à Alemanha nazi de Hitler, depois de esta ter invadido a Polónia.
Muitas pessoas começaram a fugir dos seus países à medida que os alemães ocupavam as suas cidades, especialmente judeus e outras minorias, como ciganos ou homossexuais, que eram perseguidas e levadas para campos de concentração para fazer trabalhos forçados e morrer. A isto chamou-se o Holocausto, de que já deves ter ouvido falar, que resultou na morte de milhões de judeus e não só.
Pois em alguns dias de Junho desse ano, Aristides passou centenas, ou mesmo milhares (não sabemos o número exato), de autorizações de entrada em Portugal que permitiram a essas pessoas fugirem de França e serem salvas antes de as tropas alemãs entrarem naquele país.
Para fazer isto. o diplomata teve de ir contra ordens superiores. Portugal era um país neutral na guerra (não quis apoiar abertamente nenhum dos lados) e tinha uma política que limitava muito a entrada de pessoas nessa altura.
Apesar disso, Portugal acolheu cerca de 500 mil refugiados durate os anos de guerra e muitas dessas pessoas conseguiram refúgio no noss país graças a este homem, que chegou a falsificar documentos para ajudar famílias inteiras a fugir. Primeiro, ajudou pessoas que conhecia, depois todos aqueles que lhe pedissem. «A partir de agora, darei vistos a toda a gente, já não há nacionalidades, raça ou religião», disse.
Por não ter cumprido as ordens do governo de Salazar, foi acusado de desobediência e falsificação de documentos e não pode trabalhar mais como diplomata. Morreu em 1954, aos 68 anos, de broncopneumonia, e praticamente na miséria.
Décadas depois, muitas pessoas que por ele foram salvas, assim como os seus descendentes, começaram a agradecer em público a generosidade do diplomata. Em 1986, foi condecorado a título póstumo (diz-se assim quando a pessoa é condecorada depois de morrer) com o grau de Oficial da Ordem da Liberdade pelo presidente da República da época, Mário Soares. Agora, o Parlamento decidiu homenageá-lo com uma placa simbólica de agradecimento no Panteão Nacional.
Panteão: onde estão os grandes de Portugal
O Panteão Nacional fica em Lisboa, na antiga Igreja de Santa Engrácia, e destina-se a homenagear todos os cidadãos que se tenha distinguido, seja na política, na cultura ou na ciência. Alguns têm lá os restos mortais; outros, lápides de homenagem.
Antigos presidentes, como Sidónio Pais; escritores, como Almeida Garret e Sophia de Mello Breyner; cantores, como Amália Rodrigues; e até futebolistas como Eusébio, estão ali sepultados. Não é o caso de Aristides de Sousa Mendes, que está sepultado na terra onde nasceu, no concelho de Carregal do Sal.
Na cerimónia de hoje, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu-lhe a coragem em nome de Portugal e declarou: «Aqui entrou Aristides de Sousa Mendes [no panteão nacional] e aqui permanecerá até ao fim dos tempos, se os tempos tiverem fim.»
Curiosidade
A partir de 2016 passa a ser obrigatório esperar 20 anos antes de decidir mudar o corpo de alguém falecido para o Panteão, e cinco anos antes de poder afixar uma placa de homenagem.