Robert Woodhouse, 7 anos, era um dos apoiantes mais efusivos na doca. Viajou durante um ano, de barco, para conhecer os oceanos e, hoje, obrigou a mãe a acordar às 6 da manhã para receber Greta em Lisboa. «Os meus pais quiseram mostrar-me como está o mar e quantidade de plástico que lá deixamos. Percebi que é preciso que paremos de usar plástico. A Greta é uma inspiração para mim, também eu quero conseguir uma mudança», explicou o jovem viajante à VISÃO Júnior, ainda a manhã estava a começar. Manuela Sergado, 10 anos, também fez questão de receber Greta em solo português. «Quis estar aqui hoje porque acho que é muito importante as crianças protegerem o planeta. É o nosso futuro. E acho que os adultos também estão preocupados com o planeta, principalmente por causa dos filhos», disse-nos.
“A Greta foi uma grande inspiração“
Desde as 7h30 que dezenas de pessoas esperavam pela jovem sueca em terra: jornalistas portugueses e estrangeiros, deputados, ativistas ambientais, jovens e crianças. Muitos destes têm organizado ou participado nas Greves Climáticas Estudantis que Greta deu início em agosto de 2018, altura em que começou a faltar às aulas à sexta-feira para se sentar em frente ao parlamento sueco com um cartaz que dizia «Greve à escola em defesa do clima». Outros lutam por justiça climática há já muito tempo, como é o caso dos movimentos ZERO, Climáximo, Terra-Aterra, Rebellion Extincion, representados pela Red Rebel Brigada ou o coletivo Ritmos da Resistência, um grupo de bombos e batuques que animou a manhã enquanto se esperava pela jovem.
Os jovens do grupo Greve Climática Estudantil, que desde março se juntaram a esta causa, também não podiam deixar de estar presentes. «O movimento ganhou força desde que começámos a manifestar-nos. Agora, a Greta está cá e, no fim de semana, seguimos para Madrid para a Contra-Cimeira Climática», contou Matilde Alvim, 17 anos, uma das organizadoras das manifestações em Portugal, antes de passar a palavra a Gonçalo Paulo: «A Greta foi uma grande inspiração para o movimento, mas o peso está todo em cima dela. Nós achamos que não é justo, ela não tem que fazer todo o trabalho sozinha e, por isso, estamos aqui para a apoiar. Quero dizer-lhe que não está sozinha e, se tivesse oportunidade, gostaria de falar com ela sobre os problemas que há em Portugal.»
“Bem-vinda, Greta!”
Quando, finalmente, Greta desembarcou do catamarã La Vagabonde, a multidão explodiu de entusiasmo. A jovem mudou de roupa ainda na embarcação, pegou no cartaz que anda sempre consigo e dirigiu-se a quem a esperava. Ao som de batuques, ouviam-se gritos ritmados: «Bem-vinda, Greta! Bem-vinda, Greta!»
Sorridente, acenou à multidão, que rapidamente a rodeou. Fernando Medina, o presidente da Câmara de Lisboa recebeu-a e agradeceu-lhe publicamente tudo o que tem feito: «É um prazer ter-te em Lisboa, entre nós, sendo tu uma das vozes mais notáveis na luta contra as alterações climáticas.»
O casal australiano que lhe deu boleia no catamarã – os youtubers australianos Elayna Crausu e Riley Whitelum – também elogiou o comportamento da jovem, durante uma «viagem difícil», assim como a marinheira Nikki Henderson, que comandou a travessia e admitiu sentir-se inspirada pela presença de Greta e por tudo o que tem feito.
Quando chegou a sua vez de falar, a ativista sueca agradeceu o apoio de todos os presentes: «Estou muito grata pela viagem que fiz, e por ter chegado a esta bela Lisboa. Depois de uma viagem como esta [foram 21 dias em alto-mar, desde que zarpou dos EUA], e de estar isolada num espaço tão confinado, sinto-me bem. Sabe bem estar de volta à Europa.»
Sublinhou que vai continuar a sua luta pelo Planeta e que, nos próximos dias, durante a Cimeira do Clima COP25, em Madrid, o seu objetivo continuará a ser o mesmo: «Garantir que todos nós, e as gerações futuras, somos ouvidos. Cada um tem de fazer a sua parte para garantir que está do lado certo da História.»
«Todos temos de fazer muito mais do que estamos a fazer»
Apesar do cansaço, a ativista respondeu a algumas perguntas e afirmou que aquilo que pede aos políticos e governantes mundiais é que ouçam a ciência. Questionada sobre a carta que o ministro do Ambiente português, João Pedro Matos Fernandes, lhe enviou, na qual referia o esforço de Portugal para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, Greta confessou timidamente que não se lembrava se a recebeu, pois chegaram-lhe muitas ao longo da viagem. Mas deixou um recado: «O que posso dizer é que nenhum país no mundo está a fazer o suficiente. Todos temos de fazer muito mais do que estamos a fazer».
Quando a VISÃO Júnior lhe perguntou o que gostaria de dizer àqueles que a acusam de ser uma miúda zangada que gosta de ralhar com os adultos, a jovem ativista teve uma resposta pronta: «Penso que as pessoas estão a subestimar a força das crianças zangadas. Nós estamos zangados e frustrados por uma boa razão. Se não querem que que fiquemos zangados, parem de fazer coisas que nos façam sentir assim.»
Terminadas as perguntas, Greta Thunberg ainda voltou ao barco para algumas entrevistas. Depois, dirijou-se ao carro elétrico que a levaria ao hotel onde iria descansar, após três semanas em alto-mar. A adolescente anunciou que vai ficar alguns dias em Lisboa, de onde partirá para Madrid, para participar na COP25, a Cimeira do Clima da Organização das Nações Unidas, e na manifestação de sexta-feira. «Depois, vou para casa, para o Natal», garantiu.