Esses reis e rainhas tinham filhos, como quase toda a gente, e o mais velho era o que se tornava rei depois de o pai morrer. Portanto, o poder continuava na mesma família e só mudava para outra se o rei não deixasse descendentes.Dizia-se então que havia mudança de dinastia e estas mudanças nem sempre eram pacíficas, pois havia famílias que se achavam com mais direitos do que outras a tornarem-se famílias reais. Em Portugal, entre 1143 e 1910 houve quatro dinastias. As raparigas gostam muito de histórias de princesas. As princesas são as filhas dos reis e das rainhas e os irmãos delas são os príncipes. A palavra vem do latim e quer dizer «primeiros », porque são os primeiros na sucessão. Mas cá não era costume usar-se este nome, preferindo-se o de infantes, que quer dizer «que não falam», ou seja, bebés…
Alguns destes reis governaram bem, outros assim-assim e outros foram uns grandes malucos. Houve ainda os que foram chanfrados e mesmo assim não governaram mal.
DANÇAR NO MEIO DA RUA
D.Pedro I até nem foi mau rei, mas tinha a mania de às vezes se levantar a meio da noite e obrigar toda a corte a vestir-se à pressa e ir a correr pelas escadas abaixo até à rua. Quando lá chegavam punham-se a tocar e a dançar, fazendo uma barulheira que acordava toda a gente.
Isto passava-se no século XIV, à volta de 1360, quando os reis e os nobres usavam umas mangas tão largas que iam quase até ao chão e as damas uns chapelinhos bicudos sobre umas tranças enroladas por cima das orelhas, a fazer lembrar umas rodas. A corte vivia em Lisboa, num palácio que havia dentro do Castelo de S. Jorge, chamado Paço da Alcáçova, e aquelas ruas ali à volta eram (e ainda são) muito estreitinhas. Claro que o povo, que tinha de levantar-se muito cedo, não conseguia pregar olho. Como se isso não bastasse, o rei obrigava as pessoas a virem também para a rua, dançar com ele.
Mas neste tempo, na Idade Média, a maluqueira de todos os reis era a caça. Andavam o dia inteiro a cavalgar por montes e vales, com uma grande tropa atrás, perseguindo veados e ursos. Sim, ainda havia ursos em Portugal, e não eram poucos. Hoje, há só as pessoas que fazem «figura de urso»…
O ‘ZOO’ DE D. MANUEL I
D.Manuel I, que reinou no princípio do século XVI, quando Portugal tinha feito muitos descobrimentos de terras fora da Europa, instalou uma espécie de zoo no Palácio da Ribeira, no Terreiro do Paço (porque os reis se tinham mudado do Castelo para ali). Passava o tempo a visitar os animais e gostava especialmente do elefante e do rinoceronte.
Um dia resolveu organizar um combate entre os dois, o que foi, claro, uma coisa um bocado cruel.
O «espetáculo» teve lugar em Xabregas, com muita assistência de cavalheiros e de damas. Felizmente, não chegou a haver luta, pois o «alifante», como então diziam, fugiu assim que viu aproximar-se o «rinocerota». Match nulo.
Pouco depois, D. Manuel resolveu enviar ao Papa, em Roma, uma grande embaixada destinada a impressionar o mundo.
Esse cortejo foi muito maluco.
O que chamou mais a atenção foi o tal elefante, que fez parte dele. Levava enfeites de ouro e era dirigido por um cornaca (condutor) indiano ricamente vestido. Ao aproximarem-se do Papa, o cornaca apresentou ao elefante um grande vaso cheio de água perfumada. O animal mergulhou nele a tromba, encheu-a e borrifou por três vezes o Papa. Foi um escândalo, mas naquele tempo Portugal tinha bastante poder e ninguém se zangou.
D. Manuel não foi a Roma, mas quando lhe contaram o sucedido achou graça.
AS CAVALARIAS DE D. SEBASTIÃO
Um rei que dá ideia que tinha um parafuso a menos foi o D. Sebastião. Nasceu em 1554 e era neto do rei anterior, D. João III, porque o pai tinha morrido antes antes de ele nascer. Foi por isso um menino superprotegido pela avó. Ele não teve culpa, mas a educação que recebeu deu-lhe a volta ao miolo. Como aconteceu ao D. Quixote (que tu deves conhecer), começou a sonhar com cavalarias e só pensava em ir conquistar Marrocos e em dar grandes tareias nos «infiéis», que eram os muçulmanos.
Um dia, sem dizer nada a ninguém, meteu-se num barco e foi até ao Norte de África fazer caretas aos mouros. No regresso o navio naufragou, mas ele teve sorte porque conseguiu chegar vivo à ilha da Madeira.
De outra vez, ao visitar o mosteiro de Alcobaça, quis ver os cadáveres dos reis que ali estavam sepultados. Mandou pôr os túmulos em pé e retirar-lhes as tampas e obrigou os seus acompanhantes e os frades do mosteiro a beijarem mão de Afonso III, morto há mais de 300 anos. Virou-se depois para os restos de D. Pedro I (o tal que dançava na rua) e insultou-o, acusando-o de não gostar de guerrear. Alguém atreveu-se a lembrar ao rei que se D. Pedro não tinha conquistado terras, tinha sido bom administrador. O comentário deixou D. Sebastião à beira de um ataque de nervos.
Finalmente, acabou por se meter numa guerra desastrada em Marrocos, onde perdeu a vida. Já deves ter ouvido falar da famosa batalha de Alcácer-Quibir. Foi aí.
O DESGRAÇADO D. AFONSO VI
Outro rei que não batia bem da bola foi D. Afonso VI, que viveu na segunda metade do século XVII.
Quando era jovem passava o tempo na rua, acompanhado de uns arruaceiros, a meter-se em zaragatas. Fez-se amigo do filho de um vendedor de fitas, levou-o para o palácio e fê-lo nobre.
Mais tarde, o pobre do D. Afonso VI foi afastado do trono pelo irmão mais novo, que se tornou rei com o nome de D. Pedro II e ainda por cima casou com a rainha, uma francesa. O novo casal real prendeu então o desgraçado D. Afonso VI. Se fores ao Palácio de Sintra, também conhecido por Palácio da Vila, hás-de reparar numa sala que tem o chão todo gasto. Foi onde ele esteve preso e passava o tempo a andar à roda.
Havia muitas mais histórias de maluquices de reis, mas agora ficamos por aqui, que já é tarde.