Faz 50 anos neste mês de dezembro, mais exatamente no dia 30, que um grupo de católicos e oposicionistas iniciava, na Capela do Rato, em Lisboa, uma vigília pela paz. Apanhado de surpresa, o governo de Marcelo Caetano reagiu, mandando a polícia deter os participantes, despedindo funcionários públicos e «atiçando» os ultras do regime contra os deputados da Ala Liberal que saíram em defesa da «liberdade de pensamento e de expressão» de católicos e não católicos envolvidos no protesto.
Duas semanas antes, a 16 de dezembro, acontecia no distrito de Tete, em Moçambique, o maior massacre de civis praticado durante a Guerra Colonial de 1961-1974, de que resultaram, pelo menos, 385 vítimas assassinadas pelas tropas portuguesas no triângulo de Wiriamu.
Tendo como fio condutor uma guerra aparentemente interminável, que arrastou milhares de jovens para o mato africano e que mexeu com a consciência daqueles que não se reviam num regime político decadente e moribundo, esses dois acontecimentos e movimentos de oposição à Guerra Colonial são contados, neste novo número da VISÃO História, por quem neles participou, os investigou e denunciou – por vezes, durante décadas.

Assim, as 24 horas da vigília na Capela do Rato são descritas e analisadas por António Araújo, autor de uma tese de doutoramento em História Contemporânea sobre o tema. Oito participantes – José Galamba, Francisco Cordovil, Jorge Wemans, Isabel do Carmo e Francisco Louçã, entre outros -, dão o seu testemunho, relatando, na primeira pessoa, como nasceu a ideia, quem organizou o protesto e o que aconteceu àqueles que ficaram detidos na prisão de Caxias.

Para contar o que se passou em Wiriamu, convidámos Mustafah Dhada, historiador nascido em Moçambique e doutorado em Oxford que investigou as circunstâncias do massacre durante mais de 20 anos. Por fim, Peter Pringle, jornalista inglês do Sunday Times enviado a Moçambique depois do massacre, recorda como fintou a PIDE/DGS e conseguiu sair do território africano com provas da chacina.
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SUMÁRIO DESTA EDIÇÃO:

Mapa Moçambique em 1972
Cronologia A tempestade das independências
WIRIAMU
Guerra sem fim nas ex-colónias No ano do massacre de Wiriamu e da vigília na Capela do Rato, a Guerra Colonial entrava num ponto crítico para as tropas portuguesas Por Luís Almeida Martins
Ascensão e queda do general Kaúlza A Operação Nó Górdio travou temporariamente a Frelimo, mas o seu rápido restabelecimento fez cair em desgraça o militar Por Ricardo Silva
O nascimento da Frelimo Os antecedentes e o início da luta armada organizada pela resistência moçambicana Por Ricardo Silva
O papel da ONU e as colónias Como o reconhecimento dos movimentos independentistas pela organização legitimou o conflito Por Aurora Almada e Santos
O massacre de Wiriamu Cinco aldeias no distrito de Tete foram arrasadas pelas tropas portuguesas a 16 de dezembro de 1972, fazendo pelo menos 385 vítimas civis. A história é contada por quem investigou os acontecimentos Por Mustafah Dhada
Opinião O que António Costa deve fazer a seguir ao pedido de desculpas Por Mustafah Dhada
O padre que denunciou a chacina A vida de Adrian Hastings, autor da notícia dada pelo The Times dias antes da visita de Caetano a Londres Por Rosa Ruela
Crónica A investigação relatada pelo enviado especial do jornal inglês a Moçambique, há 50 anos Por Peter Pringle
Visita de Caetano a Londres Foi debaixo de uma chuva de protestos que o presidente do Conselho foi recebido na capital inglesa, pouco depois da notícia sobre o massacre Por Emília Caetano
A resistência da Igreja moçambicana Como o regime perseguiu os padres que contestaram e denunciaram as atrocidades da guerra Por Rosa Ruela
CAPELA DO RATO
A vigília contra a guerra O protesto de um grupo de católicos e oposicionistas suscitou uma reação violenta, e desmedida, das autoridades Por António Araújo
Testemunho Relatos na primeira pessoa de participantes e detidos: José Galamba, Jorge Wemans, Francisco Cordovil, Manuel Coelho, Isabel do Carmo, Miguel Teotónio Pereira, Francisco Louçã e Bernardo Vasconcelos e Sá
Despedidos do Estado Doze funcionários públicos perderam o emprego apenas por terem estado na vigília Por Clara Teixeira
Oposição católica A contestação dos católicos progressistas, que teve em Nuno Teotónio Pereira uma figura central, já vinha de trás e não se resumiu à Capela do Rato Por Cláudia Lobo
O fim da Ala Liberal O protesto precipitou o fim do grupo, depois de Sá Carneiro e Miller Guerra terem confrontado os ultras do regime Por Clara Teixeira
Desertores e refratários no exílio Histórias de quem fugiu à guerra e foi acolhido noutros países europeus Por João Pacheco
Uma guerra sem notícias Os jornais só publicavam as notas oficiais das forças armadas, geralmente curtas e espaçadas no tempo
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25 de Abril de 1974: Operação Fim Regime