Olá, bom-dia
António de Oliveira Salazar mudara-se há pouco para a capital. Começou por se instalar no Hotel Borges, na Rua Garrett, alugando depois uma casa na Avenida António Augusto de Aguiar. Apesar de não viverem juntos, Maria Laura Bebiano ajudou-o na decoração – ofereceu-lhe, inclusivamente, umas almofadas com bordado da Madeira. António e Laura eram namorados, mas a rutura deu-se pouco depois, quando, um dia, na pastelaria Benard, ao Chiado, diante das chávenas do café, ela chegou um pouco atrasada e atraiu os olhares das mesas em redor com o seu modo de vestir algo espampanante.
Desagradado com a situação, Salazar disse-lhe que a mulher com que haveria de casar apenas usaria os vestidos que ele lhe pudesse comprar. A jovem Laura não gostou do que ouviu e imediatamente virou costas, não sem antes fazer notar que ele nunca lhe falara em casamento. O episódio permaneceu em segredo até ser contado, muitas décadas depois, no primeiro volume de memórias de Diogo Freitas do Amaral, antigo presidente do CDS. Pouco depois do arrufo da Benard, a rapariga – cuja identidade Franco Nogueira, o célebre biógrafo de Salazar, nunca chegou a apurar – casou-se com Magno Rodrigues, representante da Caterpillar para a Península Ibérica. Primeiro, foi viver para Madrid e, depois, para Sevilha, onde certo dia recebeu uma carta do ditador exigindo-lhe a devolução de toda a correspondência trocada entre os dois. Laura foi proprietária de uma casa na Calle Velázquez que mais tarde foi utilizada pelo cônsul-geral português na capital espanhola. Por isso, nos meios diplomáticos, também era habitual contar-se a história das almofadas gentilmente oferecidas pela prendada rapariga – e que, após o fim da relação, Salazar fez questão de devolver.
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