O Prémio Nobel, o mais famoso escritor americano, o pescador de espadartes e caçador de leões, o bebedor de rum, o corredor de touros, o jornalista de lenda, «o» Hemingway tem muitas pontas por onde se lhe pegar. E esta não é a menor: ele é o Sr. Lugar Certo no Momento Certo. Isto é, o dos lugares fabulosos antes de eles se tornarem adjectivos nos prospectos turísticos.
Nascendo em 1899 — em 21 de Julho, daí a hemingwaymania destes dias de centenário —, avisou que ia pôr o século seguinte por conta. Começou por escolher a rampa de lançamento — naturalmente a América, o sítio mais perto, porque o mais rico, do resto do mundo. Depois, aos 18 anos, partiu. Para acção — como será a sua escolha a vida inteira —, para a I Guerra Mundial. Em Verdun, planície monótona, ainda hoje só interessante pelo alinhamento simétrico de tantos túmulos, morriam por essa altura centenas de milhares de jovens na conquista de dez metros de lama. Ele não escolheu Verdun. Ele foi para a mais romântica paisagem europeia, a dos lagos italianos que olham, à vez, para a força dos Alpes e a suavidade do vale do Pó. Aí, aceitou o ferimento de guerra e o primeiro amor.