Está aí dezembro com as suas pontes e a VISÃO selecionou 12 cidades a visitar. Na semana passada, partilhámos seis, agora é altura de se deixar guiar por Rosário Costa, Hélder Maiato, António Mega Ferreira, Sofia Escobar, Ruben Alves e Maria João Pavão Serra. Recorde aqui as visitas guiadas José Rentes de Carvalho, Carla Sacramento, António Vitorino d’Almeida, Miguel Rocha Vieira, Hélia Correia e Rita Redshoes
COPENHAGA
À boleia dos contos de fadas
Quando acabei o curso na escola de design de Copenhaga abri um ateliê, juntamente com dois colegas, em Nyhavn. Um ano depois mudei-me para a Jutlândia, quando consegui emprego na Lego, mas continuo a adorar aquela zona. É um local cheio de vida onde as pessoas desfrutam da atmosfera relaxada junto ao canal com música jazz e boa comida.
No nº18 viveu o famoso autor de contos de fadas dinamarquês Hans Christian Andersen. Noutra zona da cidade pode visitar-se a H.C. Andersen Fairy Tale House, que revela muitos dos episódios que inspiraram os seus contos. Também o Tivoli, um parque de diversões do séc. XIX, nos transporta para o universo dos contos de fadas, é especialmente bonito à noite, depois de as luzes se acenderem.
O Experimentarium é um sítio divertido para toda a família, fica a norte da cidade, e é perfeito para os amantes da ciência. Outros sítios que vale a pena visitar são o Castelo de Rosenborg, a Rundetaarn (torre redonda) ou o Museu do Design da Dinamarca, onde passei muitas horas a desenhar quando estudava.
Uma das lojas mais antigas da Escandinávia é a Magasin du Nord, fica num belíssimo edifício de estilo renascentista francês. Deve experimentar um cachorro quente dinamarquês numa das carrinhas, as Polse Vogn, que se encontram no centro da cidade. Mas se quiser explorar a cozinha escandinava recomendo o Geranium, no topo do Estádio Nacional, com três estrelas Michelin. É soberbo.
Se gostava de ter um chapéu único visite a Susanne Juul (Store Kongensgade, nº14). Eu conheci-a há 22 anos e fiquei siderada quando ela me disse que usava materiais e técnicas dos chapeleiros de São João da Madeira, a minha terra! A Susanne é conhecida por fazer belíssimos chapéus para a família real dinamarquesa.
Quando vivia em Copenhaga, costumava passar de bicicleta pela icónica escultura de A Pequena Sereia, inspirada num conto de Hans Christian Andersen. Alugar uma bicicleta é um ótima maneira de descobrir a cidade. Faz-nos sentir como verdadeiros locais e é muito divertido. Copenhaga tem mais bicicletas do que automóveis! Não se esqueça do capacete!
EDIMBURGO
Quase em casa
A maior riqueza de Edimburgo são as pessoas. Os escoceses são mais simpáticos do que a generalidade dos britânicos. Gostam de receber e são expansivos. A cidade está incrustada no meio da natureza, próximo de zonas incríveis como as Highlands ou a ilha de Skye. Vale a pena alugar um carro para ir ao encontro dessas paisagens. O Castelo de Edimburgo e o Palácio de Holyrood estão separados pela chamada royal mile (milha real), uma zona antiga onde se encontram muitos produtos tradicionais, como kilts ou whiskey. A zona de comércio de consumo global é a Princess Street, numa zona baixa da cidade, que conduz até Calton Hill, onde existe uma espécie de templo grego – claro que os gregos não andaram por ali – mas a verdade é que se tornou uma imagem icónica da cidade. Meadows é um parque onde as pessoas se reúnem e, se chover, espera-se cinco minutos, o tempo muda muito. O Museu da Ciência e o Museu Nacional da Escócia são bastante interessantes. Não se pode ir à Escócia sem provar o tradicional Haggis – estômago de ovelha com vísceras e especiarias – está no menu de todos os restaurantes típicos. Nos pubs sente-se a cultura escocesa. É obrigatório ter um copo na mão e não pode estar vazio. O meu sítio preferido, onde vou sempre que regresso, é o Arthur’s Seat, um vulcão inativo que oferece uma perspetiva única sobre a cidade. Há vários percursos de subida, com diferentes níveis de dificuldade, é só escolher o mais adequado. E desfrutar.
ROMA
Eterno deslumbre
Passear em Roma, para quem se interessa por cultura e pela história da cultura, é fascinante. Estamos constantemente a saltar de século. O Panthéon é o monumento mais admirável que existe. É o meu centro de Roma, posso não começar por ali, mas volto lá invariavelmente. E deslumbro-me sempre. Na Piazza Venezia, contornando pelo lado direito o monumento monstruoso em memória de Vítor Emanuel II – os romanos chamam-lhe a máquina de escrever – sobe-se uma escadaria enorme que leva à Piazza di Campidoglio. Aí, tem-se uma vista extraordinária sobre os Fori Imperiali (fóruns imperiais). Também se avista a Coluna de Trajano e o Mercado de Trajano que nos dá uma ideia de como era a vida de todos os dias no apogeu do Império Romano. Ali ao lado está o Coliseu, confesso que não vou lá há muito tempo, não é um monumento que me diga muito. Sou mais de igrejas, não por nenhuma crença, mas porque a maior parte das igrejas da cidade correspondem ao período do auge do chamado barroco romano. Gosto muito da igreja de San Lorenzo in Luscina, na Piazza San Lorenzo, onde está o busto do Dr. Fonseca, um médico português da cúria papal. Vou sempre à igreja de Santa Maria del Popolo, não tanto pela sua beleza, mas por duas telas maravilhosas de Caravaggio, um dos meus pintores preferidos. Uma delas é sobre a crucificação de São Pedro, a outra sobre a revelação de São Paulo. São absolutamente assombrosas. Também é Caravaggio que me faz regressar à Igreja de São Luís dos Franceses e à Basílica de Santo Agostinho (onde também está um pequeno fresco de Rafael), aqui para ver a extraordinária Madonna dei Pellegrini. Da Piazza del Popolo sai o que os romanos chamam o “tridente”, três ruas que estruturam toda a caminhada para o centro de Roma: a Via del Corso – a grande rua do comércio (também é lá que fica a casa de Goethe); a Via del Babuino – que abre com a loja da marca inventora do chapéu borsalino; e a Via di Ripetta – ao fundo da qual se vai dar à Via dei Portoghesi, onde fica a belíssima igreja de Santo António dos Portugueses. Perto do Palácio Farnese e do Campo dei Fiori está o Palácio Spada, que pouca gente visita, e que tem uma perspetiva em trompe-l’oeil absolutamente extraordinária, concebida por Francesco Borromini, um dos grandes arquitetos do barroco romano. Imagine a preciosidade de visitar uma obra do Borromini com apenas duas ou três pessoas por companhia!
Um lugar irresistível é o bairro de Coppedè, perto da Piazza Buenos Aires, uma Disneylândia antes de Walt Disney. É um pastiche de coisas: balcões renascentistas, torres medievais, edifícios art nouveau… Um lugar fora de todos os tempos. No final da Via della Paglia, em Trastevere, encontra-se um escadório assustador só de olhar para ele. Mas, lá do alto vê-se um dos mais belos panoramas sobre Roma. É imparagonabile (incomparável)! É lá que está o Tempietto de Bramante, uma das primeiras obras de arquitetura devida ao génio de Bramante, uma espécie de templo renascentista em miniatura. É um gioiello (joia). Há um hábito italiano com o qual eu me dou especialmente bem: come-se muito bem em Roma. E all’aperto, ao ar livre, no meio da rua. No restaurante Settimio all’Arancio, na Via del’Arancio, come-se maravilhosamente. O lounge bar do Hotel Locarno é ótimo para um chá ou um gin com tónica ao final da tarde e, perto do Panthéon, fica a célebre gelataria Giolitti. Os romanos dizem que o melhor café do mundo se bebe no Santo Eustáquio, a dois passos da igreja de S. Luís dos Franceses.
É maravilhoso (e curtíssimo), de facto, mas não sei se é o melhor do mundo… Também tenho uma livraria preferida, pelo ambiente e pelo tipo de livros que se encontram: Fahrenheit 451, no Campo dei Fiori, em frente à estátua de Giordano Bruno. Mais central e inspirador era impossível!
LONDRES
Cidade espetáculo
Claro que é obrigatório ir ao West End assistir a um maravilhoso espetáculo de teatro musical. Há imensos e para todos os gostos. As principais atrações de Londres são imperdíveis: Torre de Londres, Big Ben, Tower Bridge, London Eye, Madame Tussauds, Covent Garden ou Notting Hill e o seu famoso mercado. Também aconselho uma visita a Stonehenge, fica apenas a 90 minutos de carro e é um local mítico que merece a nossa visita e reflexão. Em Little Venice pode dar-se um belíssimo passeio e ir caminhando até Regents Park. Também não se pode perder Hyde Park e Battersea Park. Leve pão para dar aos patos! Para quem gosta de livros, a livraria Daunt Books, em Marylebone, é um local mágico. A grande maioria dos museus tem entrada gratuita e são experiências inesquecíveis. Sugiro o Natural History Museum, o Science Museum e a National Gallery.
conselho assistir a uma missa na Abadia de Westminster, a entrada é gratuita e pode-se desfrutar do edifício, além de assistir ao vivo a um dos melhores coros infantis a interpretar magistralmente obras que nos deixam a flutuar. O Thames path é um fenomenal percurso a pé ao longo do rio que permite admirar locais históricos e paisagens de tirar o fôlego. Londres é uma das capitais da moda, Oxford Street e Carnaby Street são de perder a cabeça! Em Carnaby St. encontra-se um dos meus locais de eleição, o Choccywoccydoodah, para amantes do chocolate. Os meus locais preferidos para um bom brunch são o Breakfast Club, em Angel, e o Tommy´s, em Notting Hill. Indo ao encontro das tradições londrinas é indispensável ir ao hotel Ritz tomar um afternoon tea, mas reserve com antecedência.
PARIS
Expressão de liberdade
Se estivesse a mostrar Paris pela primeira vez a alguém, começava pelas margens do Sena. Apanhávamos um bateau-mouche (barco turístico) e víamos a cidade ao pôr do Sol. É supercliché, mas acho que seria uma boa primeira sensação ver Paris a partir do Sena. Também podíamos ir andar de bicicleta e passar mesmo por baixo da Torre Eiffel à noite. Aliás, um hábito local que se deve experimentar é pedalar pela cidade e mandar vir com toda a gente! Tudo se faz bem de bicicleta, exceto o bairro de Montmartre. Mas é imperdível ir lá a cima, à basílica do Sacré Coeur, comer um crepe na escadaria já depois do Sol se pôr. O L’Aerosol, também no 18º arrondissement, é um sítio novo, com 7 mil metros quadrados, dedicado à arte urbana.
Estão sempre a acontecer coisas por lá. É obrigatório ir aos quais de Seine (docas do Sena) e perder-se nos jardins de cada bairro – sem esquecer os jardins de Luxembourg e das Tuileries e o bosque de Boulogne. Le Grand Palais, Museu D’Orsay, Centre Pompidou e Fundação Louis Vuitton são alguns dos meus museus favoritos. O Museu Carnavalet e o da Vie Romantique também merecem ser descobertos. A gruta do Parc des Buttes Chaumont, as linhas férreas abandonadas de La Petite Ceinture e, sobretudo, o anfiteatro de Les Arénes de Lutèce sont geniales!
Aos pés da Estátua da Liberdade há um ginásio ao ar livre e uma pequena ilha no meio do Sena que leva à ponte de Bir-Hakeim, com uma vista fantástica para a Torre Eiffel, é um passeio incrível. Assim como fazer o caminho entre a Pont des Arts e a Île de la Cité ou da Place Clichy até Anvers e a zona do Moulin Rouge e de Pigalle.
Não deixe de subir à Catedral de Notre Dame, a vista sobre Paris é ainda mais espetacular do que a da Torre Eiffel porque se vê tudo muito mais próximo. Para fazer compras deve passar-se no bairro do Marais.
No 12º bairro há uma loja com um conceito fantástico: as pessoas fazem trocas e pagam o que quiserem pelo café, chama-se Siga-Siga. Comer, beber e dançar à beira do Sena é no Monsieur Mouche ou no Rosa Bonheur. Um restaurante clássico para mim é o Ferdi, mas neste momento vou mais ao The Hoxton. Também é ótimo para beber um copo. O The Manko Cabaret tem espetáculos imperdíveis. Mas podem ser um bocadinho chocantes para algumas pessoas…
Também ninguém imagina, mas a piscina Roger le Gall organiza banhos noturnos totalmente naturistas alguns dias por semana. Ainda não experimentei, mas deve ser uma experiência de liberdade incrível!
FEZ
Caminhos de perdição
Para uma experiência visual e olfativa inesquecível recomendo os famosos curtumes de Fez. Uma atividade medieval em que os trabalhadores descalços pisam as peles em coloridas cubas de tingimento. As pigmentações variam como numa palete de guaches de várias cores. Existem três na cidade, mas o curtume de Chouara, datado de séc. XI, é o maior. O cheiro é bastante intenso. É-lhe entregue um raminho de folhas de menta para aproximar do nariz e atenuar o odor fétido. As Madrassas (escolas corânicas) transmitem o espírito de Fez, que continua a ser a capital espiritual de Marrocos, e são belíssimas. A de Bou Inania, do séc. XIV, está maravilhosamente decorada. Em frente, o edifício de Dar al-Magana alberga o resto do famoso relógio de água que indicava as horas ao muezzin para anunciar a chamada para a oração. A Mesquita de Karaouine remonta à fundação da cidade, no séc. IX, interdita aos não-muçulmanos, é possível espreitar parte do edifício. Instalado num palácio do séc. XIX, o Dar Batha é um museu dedicado às artes tradicionais. A Bab Boujeloud, uma grande porta toda trabalhada com azulejos azuis, marca uma das principais entradas na Medina de Fez, a mais completa cidade medieval islâmica e a maior do mundo árabe, Património Mundial da UNESCO. Um labirinto com quase 10 mil ruas, ruelas, vielas e becos. Há muito por onde andar e por onde se perder, no sentido literal da palavra, mas também na tentação das compras. Atenção aos falsos guias – é sempre melhor contratar um no alojamento. A Bab Es-Seba, outra das portas de entrada na Medina, conhecida também como “porta do príncipe português”, foi o local onde o corpo do Infante Santo esteve exposto após a sua morte, em 1443. O Palácio Glaoui ocupa uma superfície de 13 mil metros quadrados e, por trás das suas 4001 portas, encontram-se muitos atrativos. O Borj-Nord, um forte do séc. XVI, alberga o Museu das Armas, onde poderá ver alguns canhões portugueses. No Mellah, ou bairro judeu, fundado em 1438, vale bem a pena fazer um passeio para ver as suas varandas ornamentadas e janelas de ferro forjado.
Limpeza, remoção de toxinas e relaxamento são os benefícios óbvios do ritual secular do Hammam (banho turco), que deve experimentar. O Ruined Garden cozinha a típica pastilha de pombo (massa folhada com carne, açúcar e canela), o Café Clock serve o famoso hambúrguer de camelo e o Dar Roumana é um dos restaurantes mais procurados. Ficar num riad (casa tradicional construída em torno de um pátio) é a melhor maneira de sentir o ambiente de Fez. Não deixe de sentar-se na açoteia do riad, de preferência ao pôr do Sol, e desfrutar da vista sobre a medina a beber um chá de menta, ao som da melopeia dos muezzins, chamando para as orações.
(Parte do guia publicado na VISÃO 1287 de 21 de novembro. Conheça os outros seis destinos que dele fazem parte)