Faz hoje uma semana que ando na estrada, mas só amanhã cruzarei a linha que separa os conformados dos inconformados. Estive um par de dias em Tel Aviv, a segunda cidade israelita, um par de dias no campo e um par de dias em Jerusalém. Tem sido uma viagem muito tranquila e dedicada à reflexão conjunta. Israel não é um país que me faça chorar por mais, mas as suas pessoas são. Tive a oportunidade de passar muito tempo com locais e os judeus têm-me surpreendido. Não os imaginava tão… normais. Muito menos os israelitas!
Em Tel Aviv não me fiz de turista ativa, até porque é uma cidade muito recente, portanto tudo o que há para ver, está à vista. Uma classe média claramente maioritária, absolutamente tecnológica e muito consumista. Arranha-céus não são difíceis de avistar, e embora não seja uma capital europeia, tem o seu próprio encanto. A causa palestiniana está muito longe das suas preocupações.
Tive uma sorte imensa com o casal que me deu teto no âmbito do couch surfing. Quando decidi comprar uma bicicleta para vir até Jerusalém, ajudaram-me a planear os caminhos, encheram-me a mochila de frutos secos para a jornada e providenciaram-me os melhores anfitriães para pernoitar na noite do shabat, em Mazkeret Batya, a meio caminho. Acabei por lá passar o fim de semana, porque o meu rabo estava demasiado dorido para continuar na minha bicicleta de criança (o barato saiu caro), a vila era linda e mais parecia o Alentejo, não havia autocarros e a família era absolutamente adorável. Passei as horas no terraço, em plena contemplação e à conversa, ou com a filha mais velha e os seus amigos, em idade militar.
Estes dias têm sido muito importantes para a evolução da minha conceção do conflito. Ter a oportunidade de me relacionar com os supostos maus da fita, fez com que percebesse que esta história está longe de ter um fim pacífico, porque ambos estão certos e ambos estão errados. Aos judeus remanesce o direito de lutar pelo país que construíram, mesmo que isso implique arruinar os sonhos dos jovens, a democracia e estabilidade das famílias. Eles brincam com o facto de não poderem da fazer investimentos a longo prazo, mas qualquer um deles trocaria a arma pela paz. Mas os árabes também querem lutar pelo que lhes foi roubado, mesmo que o preço seja a guerra. Não aceitam o status quo, e acreditam que Israel lhes pertence. A bíblia e a história dizem o contrário e é um facto que os antepassados de muitas famílias israelitas são também refugiados das calamidades a que os judeus têm sido submetidos.
Portanto isto está a tornar-se cada vez mais complicado e oxalá que todos fossem invadidos pela harmonia que reina em Jerusalém. Que cidade magnífica. Tenho aproveitado para desligar os neurónios pensadores e ativar os sensitivos. Pisar a terra que Jesus pisou, tocar o que resta do templo que Salomão mandou erguer e, ao mesmo tempo, ter a adhan (chamamento muçulmano para a reza) como banda sonora cinco vezes ao dia. Sem querer, reservei um hostel com a melhor vista da cidade. Durmo ao relento no telhado, e consigo ver Jerusalém inteira. É absolutamente inspirador e de cortar a respiração.
Amanhã vou acordar, fazer yoga com um amigo novo, e dirigir-me a Hebron. Não sei quantas semanas lá ficarei ou o que esperar, só espero não ter que dizer adeus à paz.
Tenho conseguido atualizar frequentemente o blog, portanto, é só espreitar!