Foi num clima de muita animação e emoção que deixamos a Marina do Freixo, na passada sexta-feira. Conforme tínhamos previsto, seguimos até Puebla de Sanábria para passarmos a noite, tendo lá chegado já passava das 23h (locais). Após uma noite bastante fria (4ºC), montamos as motos e arrancamos rumo a Bordéus. De portagem em portagem, atravessámos o Norte de Espanha e parte de França. Foi em Sanits, cerca de 100Km a Norte de Bordéus, que encontrámos um Hotel F1 para pernoitar. À boa moda das nossas viagens, foi no minúsculo quarto que iniciámos a preparação da nossa refeição. Desta vez, tivemos direito a uma “chispalhada” pré cozinhada com arroz feito na hora. O medo de pegar fogo ao quarto foi de tal ordem que o João decidiu saltar a janela e ir cozinhar para o jardim que ficava mesmo ali em frente. O cheirinho espalhou-se por todo o hotel, e passados alguns minutos já tínhamos quem se quisesse juntar à festa.
O dia seguinte foi passado nas auto-estradas francesas até chegarmos a Diekirch, no Luxemburgo. À nossa espera tínhamos os meus primos, prontos para saber como correram os primeiros dias da nossa viagem. À boa moda portuguesa, houve comida com fartura e café num ponto de encontro de imensos portugueses que por lá trabalham e residem.
De Diekirch avançamos para Praga. Pelo caminho atravessamos o Sul da Alemanha, com uma paragem no centro histórico de Nuremberg para almoçar. A entrada na República Checa aconteceu por volta das 17h00. Nem eu nem o João Vaz conhecíamos o país, pelo que foi com bastante curiosidade que fomos avançando em direcção a Praga. Em Praga, e pela primeira vez nas nossas viagens, optamos por alojamento em Couch Surfing, Para quem não conhece, www.couchsurfing.org é uma enorme comunidade de pessoas com um mesmo objectivo: conhecer o mundo sem gastar dinheiro em hotéis. Uma dessas pessoas é a Anna Sudenko, uma Ucraniana de 27 anos que vive e trabalha em Praga há cerca de dois anos, que nos recebeu em sua casa e nos deu dormida. Depois de um agradável jantar num restaurante típico de Praga, a Anaa fez-nos uma visita guiada pelas ruas daquela que, até à data, foi a cidade que mais prazer me deu visitar pela sua beleza e pessoas. O dia seguinte começou com uma enorme trabalheira para tirar a moto do pátio interior da casa da Anna Sudenko. O pátio tinha 5 ou 6 degraus íngremes que nos levaram mais de meia hora a conseguir vencer. Foi preciso puxar dos conhecimentos e improviso adquiridos no mundo do todo-o-terreno para construir uma pequena plataforma com tábuas e fita adesiva e tirar a moto de lá. Quando as lá colocamos tínhamos noção de que iria ser difícil tirá-las, mas era preferível, dado que deixá-las na rua. Assim que as tiramos de lá, não demorou muito até que arrancássemos rumo a Varsóvia.
A viagem de Praga para Varsóvia revelou-se numa das mais complicadas e aborrecidas de fazer desde que me lembro de andar de moto. Assim que nos fizemos à estrada começaram a cair os primeiros aguaceiros. Nada de grave. Um pouco mais tarde, já depois de termos percorrido cerca de 100Km começou o martírio: chuvas fortes e ventos laterais que nos abanavam a moto de forma violenta. Para agravar a situação, a rede de auto-estradas da Polónia reduz-se a cerca de 600Km espalhados por todo o país. Fizemos então os primeiros 100Km em auto-estrada e os restantes 600Km numa fantástica estrada nacional, ao estilo da nossa velhinha EN1, mas sem as partes de duas faixas para cada sentido. Os milhares de camiões da Letónia, Lituânia, Estónia e Rússia faziam o resto do cenário. Eram já 19h00 quando paramos para trocar algumas peças de roupa que não tinham resistido às chuvas intensas durante todo o dia. Tendo em conta que estávamos ainda a 200Km de Varsóvia tivemos, por momentos, a sensação de que não iríamos cumprir o plano traçado para aquele dia. Com muita força de vontade e espírito de sacrifício, voltamos a montar as motos e seguimos caminho. Como se já não bastasse o dia que tínhamos passado, fomos ainda presenteados com uma multa por excesso de velocidade. Íamos nós descansados, já depois de o Sol se pôr, quando de repente salta um polícia Polaco para a nossa frente. Depois de algumas tentativas de suborno, tivemos de pagar 70€ para que nos deixassem seguir. Eram já 23h30 quando chegamos a casa da Dorota Podlasca, uma adorável senhora na casa dos 50 anos, também membro da comunidade de Couch Surfing, e que gentilmente nos cedeu a sua casa para passarmos a noite. Mal chegámos, tínhamos à nossa espera uma refeição acabadinha de fazer: bacalhau com arroz, leite de coco, etc, e uma salada de alface e tomate temperada à moda tailandesa. Para terminar, a Dorota preparou-nos uma bebida a que chamam Crazy Dog: Vodka, xarope de groselha e umas gotas de tabasco. Por razões mais do que óbvias só pudemos provar um “shot” da bebida, mas trouxemos a receita… Depois do dia que passamos e do jantar que acabávamos de comer, não houve lugar para mais nada a não ser uma bela noite de descanso.
Na manhã de hoje [30 de Setembro], assim que deixamos a casa da Dorota, seguimos em direcção ao Norte da Polónia. A auto-estrada nos primeiros 60Km fez esquecer um pouco o dia anterior, mas logo de seguida voltámos ao mesmo: estradas nacionais. Desta vez, eram estradas melhores, mais largas, com melhor piso, mas não deixavam de ser estradas nacionais. Hoje o tempo esteve do nosso lado. O Sol que se fez sentir durante 90% do dia foi uma ajuda preciosa para que conseguíssemos chegar a Daugavpils às 19h00.
Amanhã [1 de Outubro] inicia-se uma nova etapa desta nossa viagem. Se tudo correr conforme planeado, entraremos na Rússia à hora do almoço. Percorreremos de seguida a estrada que liga directamente a Moscovo, mas pernoitaremos em Velikye Luki. Somente no dia seguinte iremos de Velikye Luki para Moscovo.