Bernardo Pires de Lima
O outono do ditador
Quem se opõe a tudo isto precisa de assumir este novo momento-fronteira nas vidas das democracias, arregaçar as mangas e fazer tudo para evitar estes três resultados. Falhar é estender o tapete a Putin
Democracias autoflageladas
O fator russo esteve na origem da fratura italiana e do abanão a Draghi. Debaixo de apelos nacionais para se manter no cargo, uma sua reincarnação recentra-o no sistema, fortalece o seu poder, e tranquiliza a Europa. Já não seria pouco
Crónica de um declínio acelerado
Um país que escolheu impor sanções a si próprio, optando pelo Brexit, precisava mais do que de um entertainer para o liderar
Tempos de cólera
Podemos, sim, chegar a duas conclusões ao fim de quatro meses de guerra: o Ocidente assumiu o risco de provocar o maior estrago económico e financeiro possível à Rússia; o mesmo Ocidente parece ter assumido os riscos colaterais do corte dos laços económicos, energéticos e políticos com a Rússia
A moral democrática
Hesitar um segundo em acusar e julgar um ex-Presidente (e séquito de fanáticos) por subversão dos votos no colégio eleitoral e ainda por incitamento à violência sobre eleitos, tendo em vista um golpe de Estado, é não querer proteger a democracia americana e os próximos atos eleitorais
França em transformação
Na política europeia, estas legislativas têm impacto negativo e positivo
Frases feitas
A ordem internacional liberal está sob pressão interna e externa, há sinais de erosão preocupantes, mas é cedo para lhe decretar a morte e apontar uma substituta
Como dar cabo de uma maioria absoluta
É claro que quem tenha estado mais atento à história política de Boris Johnson sabia a fama das suas piruetas, já mal distinguindo o que diz num dia do que fará no seguinte
Portugal, Portugal
A causa oceânica, enquanto ecossistema de segurança, comércio, energia, ciência e ambiente, tem tudo para ser um eixo de redimensionamento português
Sete choques vitais
Quem for capaz de estabelecer laços fortes permanentes, em geografias complementares, tem vantagens competitivas num mundo mergulhado em conflitos de interesses, anacronismos identitários, ineficácia de instituições multilaterais. Portugal é um dos países com condições inatas para ter sucesso neste ponto
O dia e a hora da Europa
A questão que se coloca, com testes de stresse brutais nestes últimos dois anos, é esta: que fórmula poderá acomodar interesses e prioridades divergentes, estádios de integração distintos, expectativas variadas e pressões externas para todos os gostos?
Democracia sem amor-próprio morre
Quem olha para a recriação da guerra pela Rússia ou da assustadiça gestão da Ómicron pela China não pode deixar de pensar que talvez existam modelos políticos alternativos, geradores de riqueza, da sua distribuição, com proteção social garantida, liberdades várias, garantias de justiça, equidade nas decisões, separação de poderes, escrutínio público e interinstitucional, e direitos inalienáveis
Teremos sempre Paris?
O que parece consolidar-se é a polarização entre um macronismo volátil e o nacionalismo de várias estirpes, resistindo o primeiro enquanto o segundo prospera
No princípio era a água
Os índices industriais e as alterações climáticas trouxeram novas dinâmicas à hidropolítica chinesa, com níveis de poluição galopantes, mastodônticas barragens, deslocações forçadas de cidades inteiras, efeitos nefastos nos ecossistemas naturais, na saúde pública, na pressão hospitalar, na demografia, na paz social, agravadas por 25% na redução dos caudais, prevista para 2050
O perigo da orbanização de França
O cenário de orbanização de França, com Le Pen no Eliseu, existe e deve ser considerado por todos os decisores políticos europeus
A quinta coluna
Há, no entanto, responsáveis fora da Hungria e que muito contribuíram para que o melhor amigo de Putin na União Europeia mantenha o poder que tem
As escolhas da China global
As grandes potências não fazem bluff, mas não podem fugir às consequências dos seus atos. Chegou a hora das grandes escolhas da China global
Aos 30 dias de guerra
É admirável ver a durabilidade da resistência ucraniana, mas desolador perceber que mal o Kremlin acelera um dispositivo mais letal, pouco ou nada lhe sobrevive
A potência em submersão
Quinze dias depois de a guerra ter começado, o impacto das sanções e o isolamento financeiro e político consolidaram a Rússia não como emergente mas em submersão. E por ter um declínio sistémico desde o final da Guerra Fria é que Putin vem utilizando a força no exterior para iludir o mundo com as capacidades militares russas. Ora, como se tem visto, até estas têm os seus limites
Há semanas em que décadas acontecem
Depois de anos em que crises cíclicas minaram a coesão entre os países da União Europeia, com grande responsabilidade dos próprios, os europeus foram capazes de se unir na responsabilidade de acolhimento de refugiados, na hora de aprovar sanções de longo alcance, e de condenar sem meios-termos a conduta de Moscovo