O protesto pelo clima parece estar a tornar-se uma causa de todos, pelo menos se olharmos para aqueles que saíram à rua hoje, 27 de setembro. Na manifestação estiveram presentes crianças acompanhadas pelos pais, adultos – homens de fato e gravata, professores, idosos e jovens adultos pertencentes a organizações não-governamentais ou juventudes partidárias – e muitos adolescentes. Os mesmos que iniciaram as greves pelo clima em março de 2019.
Depois do apelo feito pelo coletivo Greve Climática Estudantil, que organizou a greve estudantil pelo clima em março deste ano, a sociedade civil parece ter ouvido os mais novos: às 3 da tarde a praça do Cais do Sodré, onde se reuniram os manifestantes antes de rumarem ao Largo do Rossio, estava cheia. Viam-se dezenas de cartazes em português e em inglês e os gritos ao megafone também foram traduzidos: “power to the people” ou “o que é que nos queremos? Mudar enquanto podemos!”
Lá, a VISÃO Júnior falou com Clara Pestana, 13 anos, que já tinha participado na manifestação de março e que, durante os meses que passaram, foi percebendo que esta causa “era mesmo muito importante e que podia contribuir de outra forma”. A estudante de Lisboa integra o coletivo Greve Climática Estudantil e explica porque a greve deixou de ser só dos estudantes: “Convidámos toda a sociedade a juntar-se porque, apesar deste ser o nosso problema, já que somos o futuro, não somos os únicos a lidar com as alterações climáticas. É um direito e dever de todos lutarmos pelo planeta”. “Dentro do coletivo, durante estes meses, aprendemos muito. Aprendemos como cativar as pessoas e explicar-lhes que esta causa é mesmo importante. Sentimos que estamos a ser cada vez mais ouvidos, que os meios de comunicação e as pessoas estão a acordar.”
Logo ao lado, a reunir as “tropas”, estavam pais e filhos pertencentes à comunidade Tamera, uma vila comunitária e sustentável que pertence à Grace Fundation. “Nós precisamos do planeta terra, todos nós. No nosso caso, a motivação chegou tanto dos mais velhos como dos mais novos”. Vieram do Alentejo, perto de Odemira, porque sentem que estar presentes faz parte da sua mensagem. Ainda no Cais do Sodré, um empresário da Noruega que investe em tecnologia ambiental parece ser um símbolo do pedido dos mais novos. “Quero apoiar a próxima geração e estou triste com o que está a acontecer ao planeta e à natureza. Os meus colegas empresários precisam de acordar!”
Já durante a marcha, um cartaz apela à extinção da Central Termoelétrica de Sines. Quem o segura é Vítor Silva, um ativista que diz “já não ser nenhum adolescente”. Na casa dos 70, acha que os jovens precisam que “os mais velhos tenham mais juízo e que ataquem os problemas com a urgência necessária”. Desenhou o cartaz e focou-se na central do litoral alentejano porque “é a principal poluidora do país. Emite cerca de 7 ou 8 toneladas de CO2, o que equivale ao CO2 resultante do incêndio de Pedrógão Grande de 2017”. Por esta altura eram já milhares a atravessar o Terreiro do Paço, a caminho do Rossio. No final da parelha, uma mancha encarnada chamava a atenção. Eram os Red Rebel Brigadas, que, caracterizados com fatos vermelhos e caras pintadas de branco, dizem «”simbolizar o sangue perdido de todas as espécies extintas”, chamando à atenção que não só os seres humanos sofrem com as alterações climáticas.
Chegados à praça, junto à estátua de D. Pedro IV, houve discursos de vários coletivos, que incluíram a Amnistia Internacional, a plataforma TROCA e mais que um sindicato de professores. «Deixei de dar aulas hoje porque este é o tema mais importante da atualidade. Para mim é muito mais importante estar aqui, nesta hora e meia de aula que não dei. Entre as alterações climáticas ou perderem uma aula, o que é que vai afetar mais mais os meus alunos?», pergunta Deolinda Florêncio, professora na Escola Básica D. Carlos I, em Sintra, que está a assistir aos discursos com outras colegas.
No final, houve ordem para caminhar pelo percurso da manifestação para trás, à procura de lixo que pudesse ter ficado na Rua Áurea. Beatriz Salema, 16 anos, que esteve presente na manifestação de março não hesita quando faz a comparação: “a greve de hoje foi ainda mais importante. As eleições estão à porta e, apesar de ainda não votar, é importante que os partidos percebam que as alterações climáticas são um assunto de todos nós”.