Na costa portuguesa estão contabilizados seis mil navios naufragados e, destes, 320 têm, de certeza, tesouros. Alexandre Monteiro, arqueólogo subaquático, é o homem por detrás desta contabilidade e convicção.
Há 20 anos a lutar contra os caça tesouros que pilham os navios afundados, o, também, investigador da Universidade Nova de Lisboa com projetos arqueológicos em vários cantos do mundo, listou estas relíquias e secularizou-as: “deste o ano 1 500 até agora”.
Os que estão afundados ao largo dos Açores, Berlengas e cabo de São Vicente são os que mais interessam aos “caçadores de tesouros por terem a mercadoria mais importante”, ouro, prata e porcelana chinesa. Alexandre refere que hoje em dia já não há tantos roubos porque o que “interessava já foi tirado”. Mas há, ainda, muitos navios ainda por descobrir. “Em frente à Comporta há um que tem 22 toneladas de ouro dentro, está debaixo da areia – o que acontece quando se afundam por causa de grandes tempestades – mas ainda não foi feita a localização exata.”
Quando se fala de caçadores de tesouros e de arqueólogos subaquáticos é de antípodas que se trata. Enquanto um caçador tem como único intuito o lucro que pode obter, uma visão mercantilista, o arqueólogo estuda, através dos achados, as sociedades de então. É como se, ilustra o investigador, num cenário de crime, o “caçador tirasse a aliança da vítima só para a derreter” e fazer dinheiro com o ouro enquanto o arqueólogo iria ter o papel de polícia, “olhando para a aliança à procura de marcas que pudessem ajudar a identificar a pessoa”.
Os “piratas” subaquáticos de hoje são empresas. Grandes empresas que contratam mão de obra barata para saquear navios afundados.
E, se em Portugal, não há agora tantos roubos, o mesmo não se passa noutras latitudes, nomeadamente com embarcações de guerra.
Em julho, desapareceram misteriosamente das águas da costa da Malásia dois submarinos holandeses que estavam no fundo do mar desde dezembro de 1941, depois de atingidos por minas japonesas, no decurso da II Guerra Mundial.
O HNLMS O 16 e HNLMS K 17 naufragaram com 79 pessoas a bordo e eram considerados, além muitas outras embarcações, uma espécie de sepulturas de guerra e, por isso mesmo, protegidas por tratados internacionais que velam pela sua preservação.
Nas águas da Indonésia, Malásia e Singapura existem mais de 100 navios afundados devido às batalhas que ali sucederam entre as forças Aliadas e as do Eixo, nomeadamente depois do ataque à base americana de Pearl Harbor (Hawai), nos EUA, em 1941.
Assim, esta zona é aliciante para os caça tesouros que procuram materiais como hélices de bronze e fósforo ou cabos de cobre que, depois, são vendidos a soldo e em leilões por milhares de euros.
Segundo a Live Science apenas ficaram algumas peças partidas dos dois submarinos – até os restos mortais dos 79 membros da tripulação se “evaporaram”.
O governo holandês aponta o dedo aos saqueadores de metal para este misterioso desaparecimento que, apesar de tudo, envolve uma logística complicada com recurso a explosivos para fragmentar os cascos e várias semanas de trabalho para retirar o que pode ser vendido.
Já em 2016, três navios holandeses tinham desaparecido do Mar de Java, ao largo da Indonésia, juntamente com os restos mortais dos 2 200 tripulantes.
Alexandre Monteiro refere que se “suspeita que sejam os chineses” que estão por detrás destes saques. “Eles sabem exatamente o local onde estão os navios e, depois, contratam mão de obra barata, como malaios e indonésios, para fazer o trabalho.” O objetivo é o mais mercantilista possível: fazer dinheiro. As toneladas de cobre e aço rendem milhões de euros. Além disso, o aço fundido antes de 1945, ou seja, antes da deflagração das bombas nucleares de Hiroshima e Nagasaki, é mais valioso por ser mais puro, já que não foi exposto a radioatividade.