Desde a Revolução Industrial que sucessivas inovações nos transportes resultaram numa expansão do comércio de mercadorias, que as inovações tecnológicas provocaram deslocações de indústrias em busca dos baixos custos de produção e que inovações digitais fomentaram uma dispersão global do trabalho, com grande incidência no setor dos serviços. Num século e meio apenas, a população mundial passou de 1,2 mil milhões para 8 mil milhões, período no qual os países mais expostos ao comércio global viram quadruplicar o seu PIB per capita, insuficiente porém para evitar duas grandes guerras mundiais. Há muito, por isso, que já se deveria ter duvidado do determinismo axiológico entre economias ricas e interdependentes e a sustentabilidade da paz. São outras as variáveis para se partir para a guerra, como a Rússia de Putin tem provado.
Podemos dizer, apesar disso, que nas últimas décadas a globalização económica, comercial e laboral assentou em modelos quase exclusivamente baseados na eficiência dos baixos custos, dos altos lucros, deslocalizando pessoas, capitais e bens em função das oportunidades permitidas pelo alargamento da mobilidade transfronteiriça. Foi também um período generalizado de inflação reduzida, sobretudo nas grandes economias mundiais, quadro pouco alterado pelos efeitos da grande crise financeira de 2008.