A colagem dos efeitos económicos entre a pandemia e a guerra na Ucrânia tem testado as almofadas financeiras dos Estados e das organizações, amortecendo os choques que resultaram da paralisação das indústrias e do comércio, e da subida abrupta dos preços das matérias-primas, dos bens alimentares e da energia. Dizem as projeções que 2023 será o ano dos maiores impactos económicos, com inevitáveis repercussões sociais. É, por isso, importante percebermos como ajustará a China o seu arrefecimento económico à ambição imperial de Xi Jinping, já com efeitos na diminuição de investimentos na megalómana Belt and Road Initiative e na projeção de poder que a acompanha na Ásia Central e em África, sobretudo. É também importante acompanharmos a deterioração da situação económica russa, dada a previsão de maior queda no próximo ano, e a forma como o Kremlin a irá gerir, se com nova investida no exterior ou fechando-se a uma maior contestação interna.
De uma forma geral, a contração da economia mundial no próximo ano implicará, para alguns, uma nova vaga de contestação social dentro do quadro das democracias plurais, para outros, uma concentração de poder para conter bolsas de descontentamento prolongado, outros ainda procurando concertar medidas de apoio à retoma que diminuam os impactos sociais. Não é novidade a existência de ciclos de crescimento e queda das economias, o que talvez seja menos habitual é eles serem mais curtos e sujeitos a mais variáveis, num ambiente político menos favorável a entendimentos.