Esta semana, Setúbal entrou no radar noticioso pelas piores razões. A câmara municipal liderada pela CDU colocou russos a receber refugiados da Ucrânia, que recolhiam informação pessoal e faziam perguntas sobre a família. Um caso que chocou a comunidade ucraniana e o País.
“Pelo menos houve aqui uma enorme insensibilidade, mas pode ter havido mesmo atemorização e até fugas de informação que podem pôr em causa a segurança. Um caso cujos estilhaços atingem também o governo: é que a secretaria de estado das migrações já tinha sido informada no início de abril desta situação e o próprio Primeiro-Ministro também… e aparentemente nada foi feito”, diz Mafalda Anjos, diretora da VISÃO.
“Sendo o maior bastião comunista neste momento, apesar de ter como presidente um dirigente dos Verdes, este caso da receção de ucranianos por russos pró-Putin na cidade pode mesmo vir a ditar o afastamento de André Martins, o presidente da Câmara”, acrescenta o jornalista de política Nuno Miguel Ropio, admitindo que o “PCP não tem como defender o que ali se passou”.
“Quem sofre danos colaterais é mais uma vez o PCP, entrincheirado que está numa posição em que se coloca frontalmente contra a Ucrânia e usa um argumentário semelhante ao de Moscovo”, acrescenta Mafalda Anjos.
Esta semana, o dirigente da Associação de Refugiados Ucranianos Maksym Tarkivskyy disse “não entender como é que Portugal, um país democrático, continua a ter um partido como o PCP”, e Jerónimo de Sousa insurgiu-se, acusando a associação de “ódio fascizante”, dizendo que as declarações são “reveladoras da natureza antidemocrática do governo de Kiev”, constituindo “uma intolerável afronta ao regime democrático em Portugal”. Em resposta à situação, o primeiro-ministro veio dizer que era “inconcebível” a ideia de uma ilegalização do PCP por suposto apoio à Rússia, e sublinhou o papel dos comunistas para a democracia portuguesa, condenando “um clima de caça às bruxas”.
“Não percebo porque é que o Primeiro-Ministro veio levantar uma hipótese que ninguém colocou. Ilegalizar o PCP está obviamente fora de questão, é uma ideia estapafúrdia. Quem tem de penalizar, ou não, o partido são os portugueses com o seu voto nas urnas”, diz Mafalda Anjos
Para o jornalista Nuno Miguel Ropio, “o PCP está numa grande encruzilhada”. “Já estava antes do dia 24 de fevereiro, quando eclodiu a guerra na Ucrânia, tendo em conta os resultados eleitorais um mês antes, com o pior resultado de sempre – e reduzido a seis deputados e sem o seu braço ambientalista, os Verdes -, mas neste momento, com a afirmação dos seus dogmas face ao conflito, acentuou-se”, disse, dando como exemplo contrário o facto de, “perante o mesmo tipo de problemas”, o BE ter conseguido “ultrapassar uma convulsão interna”, devido às legislativas, e suavizado a sua posição face à invasão russa. “Talvez seja a hora de o PCP voltar ao estado de blackout, como era tradição e Álvaro Cunhal impunha ao partido”, concluiu.
Outro tema em análise foi o preço dos combustíveis. A descida do imposto sobre os produtos petrolíferos não se refletiu na totalidade do preço pago pelos consumidores. As gasolineiras foram acusadas de terem engordado as suas margens, mas os reguladores não encontraram indícios de que isso esteja a acontecer de forma generalizada. No entanto, “o histórico não está do lado das gasolineiras. Um estudo da ENSE, publicado no verão passado, concluía que, embora só falássemos de impostos, o preço dos combustíveis tinha subido essencialmente devido ao reforço das margens de comercialização e não devido à fiscalidade”, refere o jornalista Nuno Aguiar.
De qualquer forma, será útil dar mais alguns dias à medida para perceber a forma como está (ou não a funcionar). Mais preocupante é perceber que, continuando esta situação de emergência relacionada com a guerra na Ucrânia, a tendência continuará a ser de matérias-primas mais caras. A descida de imposto pode, dentro de alguns meses, já não ter efeito. Mais no longo prazo, haverá capacidade para voltar a subir os impostos sobre os combustíveis? “O que acontecerá daqui a alguns anos, quando a situação de emergência terminar e voltarmos a dar atenção às alterações climáticas? Será possível voltar a colocar estes impostos num nível mais elevado, onde sabemos que eles devem estar?”, questiona Nuno Aguiar. “Embora a pressão política para descer impostos tenha sido muito grande, podiam ter sido consideradas alternativas que não incentivassem diretamente o consumo, por exemplo através de transferências sociais mais generosas para famílias mais pobres. Era uma oportunidade para criar um mecanismo que ajudasse numa transição energética que sabemos que terá de ser dolorosa.”
Em análise neste Olho Vivo estiveram também a Hungria, que já se pronunciou contra novas sanções de limitação de importações energéticas contra a Rússia e da Europa, a descentralização, a possível reversão da legislação sobre o aborto nos EUA e a situação pandémica e económica na China.
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