Segue de vento em popa a maratona de 33 debates televisivos até dia 15 de janeiro: É inédito e é o resultado da fragmentação política. PS, PSD, BE, PCP, CDS, PAN, Chega, Iniciativa Liberal e Livre vão estar frente a frente ao longo de duas semanas, momentos que são particularmente importantes por esta ser uma campanha condicionada pela pandemia.
“Em debates de 25 minutos não se conseguem discutir grandes ideias nem conteúdos, avaliam-se sobretudo performances. Quem está mais seguro, quem está mais confiante, quem é mais eficaz a falar ao seu eleitorado”, começa por explicar Mafalda Anjos, diretora da VISÃO.
Rui Rio arrancou bem e marcou o seu ponto, quando disse que ao apresentar o orçamento competia ao Chega, mesmo sem qualquer acordo, viabilizar um Governo do PSD ou voltar a entregar o País a Costa, mas disse-o en passant, e a mensagem ficou diluída, por ter aceitado passar o resto do debate a comentar as propostas do Chega.
“Como dizia Churchill, nos anos 20 do século passado, sobre o então primeiro-ministro Stanley Baldwin, bater em Rui Rio ‘é como socar um edredão’: volta sempre à mesma forma, com um sorriso, sem uma mossa”, compara Filipe Luís, editor-executivo da VISÃO.
“Rui Rio vai muito mal preparado para os debates. Ao fim de dois debates, qual é o projeto do PSD para o país? Não consegue colocar uma ideia na discussão. Isto não é um problema novo. Já nas entrevistas que dava, saía delas sem ter conseguido colocar nada na agenda”, sublinha o jornalista Nuno Aguiar.
“António Costa revelou-se, até agora, o líder mais bem preparado para este formato de debate. Em 25 minutos, consegue transmitir a sua mensagem, diz tudo o que quer dizer e tem uma estratégia para cada um dos eleitorados. No debate com Jerónimo de Sousa, em que foi cordato mas cortante, falou para o eleitorado da CDU e referiu todas as medidas “de esquerda” do Orçamento que o chumbo do PCP impediu que fossem aplicadas”, diz Filipe Luís. E acrescenta: “Se havia algum adversário com quem Costa poderia revelar alguma simpatia, era Rui Tavares. Em vez disso, foi imune a qualquer tentativa de aproximação do representante do Livre, que poderá ser parceiro preferencial numa futura negociação. Sinal de que quer mesmo apelar ao voto útil e tentar a maioria absoluta. A frase ‘o voto no Livre não nos livra da direita’ é elucidativa desta postura.”
“Essa frase abriu as hostilidades e deu o tom para toda a esquerda, a puxar ao voto útil. Pode repetir a dizer que um voto no Bloco não nos vai livrar da Direita, um voto no PCP não nos vai livrar da Direita…”, acrescenta Mafalda Anjos. “Vai ser esta a estratégia ao longo da campanha. Jerónimo de Sousa estendeu uma mão aberta e António Costa respondeu com um punho fechado”, acrescenta.
“Parece que estamos a assistir a uma reviravolta. Até agora, são os partidos à esquerda do PS que parecem mais interessados em repetir a Geringonça do que António Costa, que diz não ter condições para isso”, comenta Nuno Aguiar.
O melhor debate até agora foi o de Rui Tavares contra André ventura. “Para Mafalda Anjos, Rui Tavares podia escrever um manual sobre como debater com populistas e demagogos. Trazia a lição estudada, teve estocadas excelentes – acusou o Chega de ser o partido do sistema e de o seu programa de governo ter apenas 9 páginas – e manteve-se sempre calmo. Esteve exemplar.” Nuno Aguiar concorda: “Rui Tavares foi muito bem preparado para o debate e teve resposta para todos os temas que André Ventura trouxe para o debate. Por exemplo, quando se fala em aumentar as penas de prisão, em vez de dizer apenas que é contra, usa como exemplo o candidato do Chega que foi detido em Moura por tentativa de homicídio qualificado sobre uma família para ilustrar a inutilidade da medida.”
“Ventura não parece assim em tão boa forma. Um sinal de falta de argumentos é o recurso, por tudo e por nada, e a despropósito, ao nome de Sócrates (ou Ricardo Salgado). Sócrates é o “bombeiro” de Ventura, quando é preciso reanimar as suas hostes, nos momentos em que o controlo do debate lhe escapa, como aconteceu com Rui Tavares… Agora, só falta falar da Venezuela…”, diz Filipe Luís.
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