A fuga à Justiça do antigo presidente do Banco Privado Português, já com condenações por três crimes, para destino incerto foi o tema de abertura do Olho Vivo esta semana. “Impressiona bastante a absoluta incompetência do sistema judicial para lidar com o perigo de fuga. Há uma série de perplexidades nesta história. Como é que se permitiu esta enorme janela temporal de mês e meio entre a decisão do Tribunal Constitucional e o efetivo trânsito em julgado da sentença? Porque não foram adotadas medidas cautelares quando tantos sinais de alerta estavam lá? Como há dualidade de critérios e se prende preventivamente um Primeiro-Ministro para investigar e um homem já condenado por crimes económicos fica à solta? A fuga de João Rendeiro é mais um prego no caixão da Justiça“, afirma Mafalda Anjos, diretora da VISÃO. Mal sai também o advogado, Carlos do Paulo, que deu uma entrevista à TVI onde disse que o seu cliente “saiu em liberdade” do país e é “um homem livre”.
Para Nuno Miguel Ropio, jornalista da secção de Política da VISÃO, “passaram já tantos anos, cerca de 16 anos”, sobre o espoletar do caso que envolve o antigo banqueiro — acusado de burla qualificada e falsificação informática, entre outros crimes —, que “não é admissível que a Justiça funcione com esta lentidão”. Por outro lado, sinalizou, “questiona-se porque há um manto de silêncio da nossa classe política” sobre este episódio, que fragilizada um “pilar do estado democrático”. “É preciso admitir, quem tutela a Justiça e Marcelo Rebelo de Sousa, de que há aqui uma falha”, disse, frisando para a “falta de meios” que os profissionais do setor há anos dizem ter.
Outro tema da semana foi a vitória imprevista de Carlos Moedas em Lisboa. Uma conquista que gerou debate acerca da sua paternidade e sobre o potencial para fazer uma extrapolação de âmbito nacional. “Claro que é uma vitória de Carlos Moedas e do PSD. Mas quando vemos os números, verificamos que Carlos Moedas ganha pouco face 2017. A explicação para o que aconteceu na noite de domingo é uma desmobilização do eleitorado do PS, que não compareceu para votar em Fernando Medina”, aponta o jornalista Nuno Aguiar. “Não devemos fazer como no futebol: enquanto uma equipa está a ganhar, como o resultado é bom, o processo também é incrível. A campanha de Carlos Moedas foi uma má campanha. Mas ter sido um mau candidato não significa que não seja um bom presidente, até mais centrista do que se apresentou.”
Após a vitória inesperada de Carlos Moedas no domingo, a grande a incógnita agora é sobre o que se segue; ou seja, quando a esquerda está em maioria dos dois órgãos municipais — câmara e assembleia municipal —, como o social-democrata conseguirá levar a cabo o programa com que se apresentou às eleições. Segundo Nuno Miguel Ropio, o PS, que tem o mesmo número de mandatos e deputados que a coligação de direita, pode ter a tentação de fazer cair o executivo de Moedas: “Quatorze anos de poder socialista não se esquecem facilmente. Há todo um conjunto de vícios, toda uma maquina moldada de acordo com o poder que esteve instalada”.
Além disso, quanto à possibilidade de Moedas vir a entrar numa eventual corrida à liderança do PSD e ter-se tornado numa esperança da direita para um regresso ao poder, Rui Rio tem de despertar para os sinais que recebeu ao longo dos últimos quatro anos de presidência do partido. “Mais do que forma como se aplaude a grande qualidade de Paulo Rangel, como político, mais do que a capacidade de resiliência que Carlos Moedas mostrou, e com a qual venceu a Câmara de Lisboa, tudo isso diz muito mais da fraca liderança do PSD, tendo em conta essa necessidade desesperada e constante de procurar alguém [que substitua Rio]”, apontou Nuno Miguel Ropio.
Para terminar, a batalha institucional entre o Presidente da República, apanhado de surpresa, e o governo a propósito da substituição do Chefe do Estado-Maior da Armada. “Está a mostrar à direita que não deixará o PM pisar o risco. E o timing também é importante. Marcelo Rebelo de Sousa vê Moedas como uma reserva futura para o PSD e pressente o início de um novo ciclo. O plano de refundar a Direita, que ele sabe que é preciso fazer, começou agora”, sublinha Mafalda Anjos.
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