Esta semana, o tema principal no Olho Vivo foram as panelas de pressão sociais pelo mundo. Arrancamos com Cuba, onde uma manifestação anti-regime aconteceu esta semana, o incidente de contestação mais importante desde os anos 90. Em várias cidades, muitos milhares de pessoas desfilaram pelas ruas, pedindo liberdade e o fim da tirania, e gritando palavras de ordem simbólicas: “pátria ou vida”, em vez do famoso slogan da revolução cubana, “pátria ou morte”. Os protestos foram reprimidos, mas os números oficiais sobre as prisões não foram divulgados.
“No início, a pandemia veio apaziguar os descontentamentos, que explodiram agora de forma redobrada por toda a América Latina”, sublinhou Rui Tavares Guedes diretor-executivo da Visão e diretor do Courrier Internacional. “Mas ao contrário do ‘Maleconazo’ de agosto de 1994, protestos motivados pela ideia de fugir do país, o que aconteceu no domingo foi completamente diferente: é a própria legitimidade do governo cubano que está em causa”, explicou Mafalda Anjos. Filipe Fialho, editor de internacional, acrescentou que “Miguel Díaz-Canel tentou fazer o mesmo que Fidel Castro em 1994, que saiu para as ruas para falar com as pessoas, mas desta vez não conseguiu fazê-lo”. E para tentar apaziguar os ânimos teve de ir buscar Raúl Castro.
Outro tema em debate foi a situação em Macau. A 12 de setembro, Macau vai a votos para renovar a sua Assembleia Parlamentar e, tal como sucedeu com Hong Kong, a República Popular da China acha-se no direito de interferir no processo eleitoral e de interditar os candidatos que não sejam fiéis ao regime comunista. “Uma situação que viola claramente a Lei Básica – na prática, a Constituição do território – e os acordos celebrados entre Pequim e Portugal, com o Governo de António Costa a manter um “silêncio inadmissível” sobre o assunto”, sublinha Filipe Fialho.
Por fim, Rui Tavares Guedes elogiou o pacote verde apresentado pela Comissão Europeia, considerando que essa é “a única forma da Europa se afirmar num mundo cada vez mais bipolar, entre a China e os Estados Unidos”, onde a defesa de determinados valores pode fazer a diferença: “Este é um passo decisivo para o futuro da Europa e para o futuro do planeta”.
Avisou, no entanto, que este é um pacote que “vai mexer em tudo” e em que haverá custos para todos: “Vamos pagar mais pelos combustíveis, pelo aquecimento das nossas casas, pelas viagens de avião. Vai haver taxas para tudo, mas essa será a única maneira de demonstrar que as soluções tecnológicas que usamos atualmente para nos movermos ou nos aquecermos não têm futuro e vão passar a ser cada vez mais caras. Mas com essas taxas vamos ter também muito mais dinheiro para investir em inovação para produzir energia limpa.”
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