O PSD é um partido especial. Ideologicamente complexo, sociologicamente distinto, o Partido Social Democrata sempre foi e continuará a ser uma força política com um espaço próprio na sociedade portuguesa. Não podemos ter ilusões: nos próximos anos, viveremos tempos tremendamente desafiantes e difíceis. Aliás, já os estamos a viver desde 30 de janeiro.
Nos últimos tempos, tenho refletido bastante sobre o nosso futuro enquanto partido. Em artigos nesta rubrica, na Moção de recandidatura que apresentei à JSD, nos contributos e propostas concretas que – na JSD – produzimos e divulgámos recentemente para mudar o partido, está sempre presente essa sede de futuro. A vontade de garantir que no futuro está um PSD pujante, vivo e com capacidade de dar a cada português os melhores instrumentos para materializar o seu projeto de vida.
Ao longo de décadas, milhares de homens e mulheres foram capazes de construir um partido grande que procurou sempre libertar o que há de melhor na nossa sociedade e em cada português. Sem engenharias sociais, sem ilusões de Homem Novo, sem fantasias afastadas do que é a vida real de cada pessoa comum. De forma pragmática, encarando de frente o que somos enquanto povo, os nossos atrasos crónicos e as oportunidades que existem na nossa comunidade e no nosso país.
O PPD/PSD esteve presente nos principais momentos da afirmação e expansão da democracia portuguesa: na consolidação do Estado de Direito; no combate às tutelas militares e na escolha civilista, ocidental e liberal; na vocação e adesão Europeia desde a primeira hora; na destatização e na reversão das políticas terceiro-mundistas; nas mudanças constitucionais que permitiram a existência de uma economia de mercado; na concretização de políticas sociais que conferem dignidade mínima e potenciam o elevador social e a igualdade de oportunidades; na afirmação da autonomia regional ou na subsidiariedade das políticas públicas e no desenvolvimento de autarquias com capacidade de transformar vidas, mudar territórios e comunidades. E assim se tornou grande, o partido que os nossos adversários diziam que não tinha espaço para existir.
Estivemos também presentes nos momentos difíceis, dando a cara e assumindo políticas e escolhas exigentes com custos sociais elevados. Nunca renegando, nunca fazendo ilusionismo, assumindo sempre que estávamos a exigir muito a cada português, com o objetivo patriótico de evitar o caos que uma bancarrota geral do Estado significaria.
Em cada um destes momentos, desde 1974, naturalmente que também cometemos erros, que nos explicámos mal, que adiámos ou fomos incapazes de realizar mudanças importantes ou que apressamos políticas e reformas para as quais o país ainda não estava preparado. Temos de ter a capacidade de fazer uma análise fria ao que fizemos, porém, acredito que, sempre que fomos testados por circunstâncias exigentes ou excecionais, o PSD não falhou a Portugal nem aos portugueses.
Hoje, o PSD não se encontra numa fase fácil, mas seja na vida, seja na política, o sucesso não é eterno nem as derrotas são definitivas. Nas posições que tenho tomado, tenho feito a minha leitura crítica do momento do PSD, do que aconteceu nos últimos anos, do recente cisma ideológico que alguns procuraram criar, das mudanças que tardam em ser feitas, das nossas falhas políticas, do nosso insucesso eleitoral. Não basta fazer diagnósticos, pelo que a título pessoal ou na JSD, temos procurado avançar com caminhos futuros para o PSD para areforma interna do PSD, para a abertura do partido, bem como, para a efetiva afirmação da alternativa política que o PSD deve protagonizar.
Para as mudanças que considero urgentes, acredito que há dentro do PSD um potencial reformista para mudar o nosso destino. Este fim-de-semana, o PSD voltou a demonstrar a força da sua militância e o empenho dos homens e mulheres que não desistem do seu partido, apesar de um contexto geral de crítica constante e fácil à campanha eleitoral interna.
Dado o momento em que estamos, com um partido fatigado e a ressentir-se de vários atos eleitorais externos e internos seguidos e temporalmente muito próximos, a que se junta a perspetiva de 11 anos seguidos na oposição, os militantes do PPD/PSD estão de parabéns pela resistência e pela fibra que demonstraram. Mais uma vez, dissemos presente.
Os resultados foram claros e inequívocos: Luís Montenegro teve uma grande vitória e um mandato claro para liderar a oposição e afirmar o PSD como alternativa aos socialistas.
Ao longo da campanha e na reação aos resultados, o Presidente eleito do PSD não se deixou subjugar, não interiorizou narrativas que apenas fragilizam a ação do PSD. Luís Montenegro sabe ao que vem, perspetiva de forma clara as pedras que encontrará no caminho, mas tem um propósito claro e uma mensagem firme: oposição forte, constante e vigilante a um poder absoluto do PS, ao mesmo tempo que afirma as nossas propostas, o nosso projeto alternativo e reconcilia os portugueses com um renovado, fresco e unido PSD.
A subestimação das suas capacidades – como assistimos tantas vezes na campanha – poderá revelar-se um catalisador e o melhor amigo da sua liderança. Nos últimos anos, tive a oportunidade de conhecer e privar com Luís Montenegro. Pessoa afável, de trato simples e direto, com características naturais de liderança, que vão além do carisma ou da retórica acutilante em torno das suas ideias, mas que se manifestam acima de tudo, na capacidade de ouvir e no gosto genuíno em discutir abertamente e de espírito aberto, as opiniões de terceiros para chegar às melhores soluções.
Há igualmente um traço em Luís Montenegro que me dá muita esperança para o que temos pela frente no PSD: é conhecedor e genuinamente preocupado com as dificuldades diárias que marcam a vida de tantos portugueses, sabe o que custa a tantas famílias honrar mensalmente os seus compromissos financeiros e pôr comida na mesa. Não vive numa bolha nem vive alheado dos problemas das pessoas reais.
Este sábado, o PSD elegeu um líder. Eu acredito que Luís Montenegro terá a capacidade e o engenho para reerguer o “partido mais português de Portugal” e trazer de volta o grande PPD/PSD. Vamos ao trabalho, é hora de recomeçar.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.