Zelensky, quase pedindo desculpas, anunciou que o seu país ainda não está em condições de se lançar na ofensiva. Tem tudo, mas não pode. As baixas seriam insuportáveis, disse. Traduzindo, sem ajuda da Inteligência Artificial, o que ele queria dizer, na verdade, era que a primeira frente ofensiva arrancou em Bakhmut, outra se deverá seguir na região de Zaporizya, e em Kherson, já do outro lado do rio, o avanço militar ucraniano já tem dezenas de quilómetros.
Nesta guerra, como noutras, há sempre uma outra face a ter em conta, e na maioria dos casos trata-se de baralhar o inimigo, induzindo uma ideia oposta ao que vai ou está a acontecer. Outro exemplo, mas maquiavélico, resulta dos constantes disparates do chefe dos mercenários russo, Evgeny Prigozhin, que todos os dias descasca em Moscovo, Putin, e nos comandos militares.
A rábula é sempre a mesma: estamos sem munições, vou retirar, são uns bandidos, e Putin é o culpado desta desgraça. Se tudo isto não fosse combinado, ou acertado, Prigozhin já teria ardido. Nem os seus mercenários chegariam para o defender. Mandou para a matança milhares de soldados do grupo Wagner, e agora é o primeiro a abandonar Bakhmut, gritando que a ofensiva vinha aí.
Esta guerra escura, secreta, de desinformação, é uma parte decisiva na batalha entre a Ucrânia e a Rússia. E tanto Zelensky como Putin sabem jogar às escondidas. O presidente russo com velhas artimanhas, mas o chefe de Estado ucraniano rapidamente aprendeu. Os mísseis de longo alcance foram entregues, os quartéis-generais e postos de comando russos estão ao seu alcance, e o Sol vai brilhar no Donbass, como brilhou em Austerlitz, para Napoleão. Foi o engano e a desinformação que deu a vitória à França, contra os exércitos de dois poderosos imperadores: Francisco II da Áustria, e Alexandre I da Rússia. Na guerra não vale tudo, mas a mentira é um poderoso equipamento de estratégia militar.
MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.