Aconteça o que acontecer, Bakhmut será sempre uma lição de valentia, coragem, esforço, bravura, e temeridade dos ucranianos. Esta batalha também já é uma das mais sérias derrotas de Putin, das suas forças armadas, e dos mercenários do grupo Wagner. É fácil de perceber: não tendo nenhuma importância estratégica, e não sendo uma cidade decisiva para nenhuma das partes, o facto é que os russos ainda não a conseguiram conquistar.
Bakhmut simboliza, para todos os efeitos, uma alteração na relação de poder e capacidade das forças em confronto. Os russos atiram com tudo o que têm para a cidade e redondezas, empregam nesse combate as melhores unidades militares e de mercenários, mas sem conseguirem uma vitória militar. Ou um empate. Ou qualquer outra coisa.
Os ucranianos não abandonam, não largam, e têm razões para isso: o desgaste que estão a causar aos russos é extraordinariamente elevado, em homens e equipamentos, e só querem ganhar tempo para movimentar as suas reservas e equipamentos militares, já a ser posicionados para a ofensiva de Primavera. Que pode partir dali, e de mais uma ou duas frentes. A estratégia de Kiev é clara: chegar rapidamente ao mar de Azov, para cortar as forças russas. E mastigar, lentamente.
Bakhmut ficará na história desta guerra: o poder militar bruto, mesmo que usado constantemente, em vagas, não é decisivo contra uma defesa ágil, bem equipada, e em permanente movimento. Na verdade, os russos chegaram tarde a este confronto: não podem usar meios aéreos, muito menos blindados, e a artilharia ou mísseis não chegam para destronar as forças ucranianas. No dia em que se contar a lenda de Bakhmut, e arredores, vai perceber-se que foi ali que se inverteu a sorte da guerra no Donbass.
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